De tempos em tempos, Thomas Ostermeier se vê às voltas com mais um texto de Henrik Ibsen. Além de Um Inimigo do Povo, o diretor alemão já montou ao menos outros quatro títulos do dramaturgo. Versões tão impressionantes que o tornaram reconhecido em toda a Europa por cunhar uma nova maneira de olhar para os dramas do autor. Capazes de transformar o diretor artístico do Teatro Schaubühne, de Berlim, na mais nova “autoridade” em Ibsen.
Só que isso não quer dizer, ele revela, que seja um grande admirador do escritor. “Não gosto especialmente da sua maneira de escrever. Mas acho ótimo não ter com ele uma relação de fã porque isso me dá uma liberdade que eu não teria de outra maneira. Assim, consigo uma distância crítica para fazer a minha própria pesquisa.”
Em suas montagens quase nada acontece exatamente da maneira como foi escrito. Em Hedda Gabler, por exemplo, os manuscritos de um livro são queimados pela protagonista na lareira. Já na adaptação que criou, a entediada personagem-título destrói os mesmos originais só que martelando o laptop em que foram escritos. Quando Ostermeier encenou Casa de Bonecas – espetáculo com o qual alcançou seu maior sucesso -, trouxe o relacionamento do casal Nora e Helmer para uma casa de classe média atual, cercada por imagens da televisão, do cinema e da cultura pop.
Encenada em São Paulo graças a uma parceria entre o Sesc e o Instituto Goethe, a recente Um Inimigo do Povo parece guiar-se por tônica semelhante. O diretor transporta a trama de um balneário para uma espécie de cidade “spa”. A primeira cena não ocorre mais em um jantar formal, mas durante os ensaios de uma banda de rock. Nem mesmo o final da peça foi preservado. “Na obra original, o médico não aceita subornos, é um herói. Só que nós não vivemos propriamente em um tempo de heróis”, argumenta ele, na entrevista que concedeu por telefone, de Berlim.
UM INIMIGO DO POVO – Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, 3095-9400. 6ª, 21 h; sáb., 20 h; dom., 18 h. R$ 32. Palestra com diretor no Inst. Goethe. R. Lisboa, 974. 2ª, 16 h. Grátis. www.goethe.de/saopaulo
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.