As discussões que manteve com o pai turrão ao longo de alguns anos foram descritas pelo escritor sueco Fredrik Backman em seu blog. O sucesso foi imediato – em pouco tempo, outras pessoas começaram a relembrar histórias sérias ou engraçadas envolvendo familiares. “Até que chegou o momento em que me sentei diante do computador e, inspirado por aquele material, escrevi um romance”, conta Backman por telefone, desde Estocolmo, à reportagem. O resultado é Um Homem Chamado Ove (Objetiva), livro que se tornou best-seller nos Estados Unidos e inspirou um filme, em cartaz em São Paulo, que concorreu ao Oscar de produção estrangeira.

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Se há algum segredo nesse sucesso, está no personagem principal. Aos 59 anos, Ove é um homem em preto e branco – mantém uma rotina enfadonha mas imutável, reclamando de quem não respeita as regras.

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Seu único consolo, o que o torna um ser mais razoável, é o amor da mulher com quem é casado. Mas, se no livro a informação de que ela está morta e Ove prepara o suicídio por enforcamento só é divulgada depois de 30 páginas, no filme isso logo é revelado. “Era preciso fixar logo o personagem afim de preparar o público para a mudança que vem em seguida”, comentou o cineasta Hannes Holm, diretor da versão cinematográfica, durante a semana da festa do Oscar, em fevereiro, em Los Angeles.

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Autor também do roteiro, Holm sabia que pisava em terreno minado – o romance foi traduzido para 38 idiomas e vendeu mais de 2,8 milhões de cópias em todo o mundo. Provocou tanta comoção que, na Coreia do Sul, Backman ganhou um inusitado fã-clube. “Foi uma das minhas maiores surpresas”, conta o autor. “Ove é um típico personagem sueco, com características que só seriam bem entendidas em meu país. A começar pelo nome, muito comum aqui, algo como ‘José’ aí no Brasil, mas muito estranho no resto do planeta.”

Como em outras situações semelhantes, o romance inicialmente não empolgou alguns editores. “Gostavam da trama, mas não viam perspectiva comercial na venda”, observa Backman, de 35 anos. “Mas eu sentia um potencial pois, ao contrário das qualidades que mais ressaltam, como seu humor agridoce e a relação com os novos vizinhos, sempre vi o romance como uma love story: a paixão indestrutível de Ove pela mulher já morta.”

A vizinhança citada pelo escritor é, de fato, decisiva para a mudança de rumo da história – Ove passa a conviver com um jovem casal, especialmente a mulher muçulmana, que enfrenta e acaba desmontando o mal humor de Ove. “Ao final da história, o leitor sabe mais sobre ele e, acredito, fica mais satisfeito ao perceber que Ove mudou.”

Perguntado sobre a versão para o cinema, Backman desconversa. “Trata-se de uma obra independente da minha – o filme nunca será meu romance”, comenta ele. Hannes Holm contou que, de fato, escreveu a partir da sua interpretação da obra. “Backman demorou para comentar minha primeira versão e só fiquei aliviado quando chegou um e-mail com apenas uma palavra: ‘sim’.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.