Os índios Xucurus com Zeroquatro, da
Nação Zumbi: muito além do rock e do rap.

As diferenças entre roqueiros e rappers são coisa do passado – como já ensinavam Aerosmith e Run DMC em Walk this Way. No último sábado, Recife abrigou a primeira edição do Skol Hip Rock, a mais nova investida da AmBev no terreno da música, cuja proposta é unir as tribos do rock e do hip hop num único e grandioso evento. As batidas de Thaíde, Marcelo D2, Xis, Instituto, Mzuri Sana se misturaram aos riffs de Mundo Livre S/A, Los Hermanos e Nação Zumbi, diante de quase 10 mil pessoas, no Centro de Convenções de Olinda. E tudo na mais santa paz.

Uma megaestrutura foi montada na área de 10 mil metros quadrados, com direito a circuito para a prática de bike, skate e roller, oficinas de grafitagem e DJs, pista para dança de rua, lan house, sete bares, praça de alimentação e até uma loja de roupas. Tudo por 30 reais (ou R$ 20 antecipados). Foram quase 12 horas de atrações. A programação começou por volta das 16h, quando o DJ pernambucano Tiger fez as honras da casa. Na seqüência vieram as performances radicais de skate, roller e bike, todos juntos na pista, e a apresentação dos B.Boys da AJP Break. Enquanto isso, grafiteiros ensinavam sua arte nas oficinas.

No palco, Tiger foi sucedido por Thaíde, pioneiro do hip hop em São Paulo, que fez as vezes de mestre-de-cerimônias. Em seguida vieram os paulistanos do Mzuri Sana, que não se intimidaram com o grande público. Depois, entrou a primeira banda de rock, o Mundo Livre S/A, que jogou em casa e fez bonito. Zeroquatro (ex-Fred) e seus asseclas deitaram e rolaram no belo palco montado no Centro de Convenções. Sua envolvente alquimia de samba, rock e regionalismos embriagou conterrâneos e forasteiros. O Mundo Livre alternou guitarras distorcidas com cavaquinho e baixo acústico, e promoveu o encontro que foi o símbolo do ecumenismo musical do evento: no mesmo show, convidou índios xucurus e os rappers urbanos do Instituto. E a “salada” deu mais do que certo.

Duelo

Intervalo, e os DJs Marcelinho e Hadje tomaram conta das pick-ups para um duelo, alternando hip hop e clássicos do rock, claro. Era o aquecimento para o show do Los Hermanos, que se apresentaram pela quinta vez em Recife só este ano. O que talvez explique o ar entediado do guitarrista e vocalista Marcelo Camelo – “Boa noite, Recife! Aqui estamos nós… de novo”, fustigou, ao fim da segunda ou terceira canção. A apatia da banda carioca contrastou com o entusiasmo do público, que cantou a plenos pulmões praticamente todas as músicas -até as do recém-lançado Ventura. O Los Hermanos também foi a única banda de rock que não convidou nenhum representante do hip hop. “Não somos muito dados a jam sessions”, disse nos bastidores o guitarrista/baixista Rodrigo Amarante. “Não sei bem por quê”. Estrelas. Mas o show foi correto.

Fogo de palha

Estimulado pela apoteose dos Hermanos, Marcelo D2 entrou com gás total. A massa, já aquecida pelos cariocas, foi ao delírio, ao som das músicas solo e de clássicos do Planet Hemp, como Até a Última Ponta. D2 dividiu boa parte do show com B.Negão, seu companheiro de Planet. Poderia ter sido um grande show, não tivesse o vocalista se perdido. Fez três versões de Qualé, solos e bases intermináveis, o que acabou deixando o final longo e sonolento. Começou hip-rock e terminou progressivo.

No intervalo, mais um round do duelo Marcelinho x Hadje. Passava das 3h da matina, e a galera, exausta, começava a debandar. Até que entrou a Nação Zumbi, verdadeiros semideuses na capital do mangue, e conseguiu a proeza de voltar a preencher as clareiras que se abriam no público. Com o peso e a competência de sempre, Jorge Du Peixe e cia. mostraram o disco novo, tocaram clássicos dos tempos de Chico Science e fecharam a conta convidando Xis -com quem já se apresentaram no disco Acústico de Cássia Eller e em outras oportunidades.

De fora

Fim de festa, 4h30 da manhã, e o público saiu de alma lavada. Sem briga, sem confusão, bebedeiras isoladas, nada de mortos ou feridos. Agora, sabe o que é pior? A próxima parada do Skol Hip Rock seria Curitiba – e com o reforço d?O Rappa, que não foi a Recife por problemas de agenda. Mas o lamentável episódio do Kaiser Music no Expotrade -que também abrigaria o evento da Skol – provocou o cancelamento da escala na cidade. “O Corpo de Bombeiros não liberou o Expotrade, e a AmBev sempre realizou seus eventos em parceria com as autoridades competentes, como PM e Bombeiros”, explicou a assessoria. Assim, os curitibanos que quiserem prestigiar o festival, terão que se deslocar até Ribeirão Preto (SP), onde o Skol Hip Rock acontece no próximo dia 18.

Luigi Poniwass viajou a Recife a convite da realização do evento.

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