O jornalista Armando Nogueira se considera um nostálgico incorrigível. Aos 76 anos, o apresentador do Bate Papo com Armando Nogueira, do Sportv, está sempre a recordar as defesas de Barbosa, os dribles de Garrincha, os gols de Pelé… Também pudera. Poucos tiveram o privilégio de cobrir 14 Copas do Mundo. Mesmo assim, de vez em quando, um telespectador mais jovem de Armando Nogueira, contemporâneo de Kaká, Diego e Robinho, escreve um e-mail malcriado reclamando do tom “passadista”. “Muitos se queixam que só falo do passado. Mas o que posso fazer? Vou falar do futuro? O passado é um patrimônio que só um louco é capaz de ignorar”, argumenta.
Para não ser tido como louco, Armando Nogueira tem o cuidado de agrupar em coletâneas algumas das crônicas que escreveu ao longo da carreira. Esse mês, ele lança A Ginga e o Jogo, pela Objetiva, o seu décimo livro de crônicas. Nele, Armando rememora, entre outras passagens inesquecíveis, o dia em que conheceu Pelé. Foi no Mundial de 58, na Suécia, quando o então repórter fotográfico da revista O Cruzeiro cobria um treino da seleção brasileira. Logo, o franzino Pelé, então com 17 anos, começou a fazer perguntas sobre lentes, filmes e afins. “Ele queria comprar uma Leika igual à minha e quis saber como manejar um fotômetro”, recorda.
Coincidência ou não, o Mundial de 58 é o favorito de Armando Nogueira. “Eu ainda não era um jornalista calejado, mas não era mais um torcedor desvairado. E, como torcedor, tive o privilégio de ver em campo Nílton Santos, Didi, Garrincha e Zagallo”, confessa, citando, não por acaso, os craques botafoguenses do “escrete canarinho”. Mas nem só de Copas do Mundo se faz o currículo de Armando. Olimpíadas, por exemplo, ele já cobriu oito. “Seis delas de corpo presente”, ressalta. Até hoje, ele não se esquece de alguns dos jogos disputados pela seleção feminina de vôlei, nas Olimpíadas de Atlanta e de Barcelona. “Sempre tive um fraco por mulher. E aquela seleção, devo admitir, tinha umas jogadoras muito bonitas e interessantes”, sussurra, maroto.
Telejornalismo
Dos quase 50 anos de carreira, Armando dedicou 25 deles ao telejornalismo. A estréia na tevê aconteceu em 1963, quando ele comandou o Mesa-Redonda Facit, um programa de debate esportivo, na TV Rio, ao lado de Nelson Rodrigues, João Saldanha e Luís Mendes. “Com uma única frase, o Nelson era capaz de acabar com uma argumentação de uma hora e meia”, lembra. Logo, Walter Clark convidou o grupo para apresentar um programa do gênero na Globo. Um mês depois, Armando recebia outra incumbência: ajudar a implantar o telejornalismo na emissora. “O telejornalismo na Globo nasceu do nada. Ainda tentei buscar profissionais nas redações dos jornais, mas ninguém quis trocar o certo pelo duvidoso. O jeito foi recrutar calouros nas faculdades”, relata.
Por isso mesmo, Armando costuma definir a primeiríssima edição do Jornal Nacional, exibida em 1.º de setembro de 1969, como um verdadeiro… “desastre”. “O Cid Moreira chamava São Paulo e entrava Rio de Janeiro, chamava Florianópolis e entrava Curitiba…”, exemplifica. Para piorar as coisas, o JN estreou em plena ditadura militar, pouco depois de decretado o AI-5, em 13 de dezembro de 1968. “Logo na estréia, fomos proibidos até de noticiar o derrame cerebral do Costa e Silva”, lamenta, referindo-se ao então Presidente da República.
Traição
Desde esta época, Armando Nogueira jamais deixou de assumir a responsabilidade sobre os telejornais da Globo. Até o dia em que foi editado o debate entre os candidatos à presidência da República Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, em 1989. Segundo Armando, a responsabilidade foi de Alberico Souza Cruz, que, à sua revelia, omitiu trechos do debate, como a antológica declaração de Collor de que não tinha dinheiro para comprar um videocassete. “Você já ouviu falar de marido traído? Pois é, fui traído por um subordinado, que diz que não sabe o que aconteceu… Ah, já não tenho mais paciência para tocar nesse assunto…”, suspira, sem esconder a decepção.