João Ubaldo Ribeiro falou sobre a infância, o amor pela literatura e a presença dos grandes clássicos em sua vida. Tudo isso no inédito Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras que aconteceu na 11.ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo.
No dia em que aprendeu a ler, e isso foi realmente em um dia, João Ubaldo Ribeiro conta que voltou para casa quase que febril porque sentia que poderia entender o que diziam as legendas das ilustrações de Gustave Doré para Dom Quixote, que tanto o fascinavam. João Ubaldo contou como foi sua infância, sendo filho de um intelectual ?que não suportava ter um filho analfabeto aos cinco anos? e falou sobre a presença dos clássicos em sua vida. Ele estava com Antônio Carlos Secchin e Ana Maria Machado no inédito Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras, revisitando os clássicos.
?Eu era tão cabeçudo e isso, para meu pai, era sinal de inteligência?, daí a aflição de ter um filho ignorante e analfabeto aos cinco anos. João Ubaldo lembra que em sua casa havia estantes de livro até mesmo na cozinha e que a maior coleção de clássicos do estado estava lá. ?Sei escrever um bocadinho por causa dos clássicos. Li Ilíada pelo menos dez vezes antes de sair de Aracaju?.
Ele diz que obras de Shakespeare, Cervantes, Camões e tantas outras não são consideradas ?clássicos? à toa. ?Permanecem para se entrelaçarem à questões humanas como o engano, a tragédia, o amor e a paixão, a condição humana de forma tão contundente que transforma esses livros em patrimônio da humanidade, de todos nós?.
João Ubaldo defende a leitura dos clássicos como algo de básico para qualquer pessoa, especialmente para os jovens. ?Precisamos ler os clássicos porque precisamos ler os fundamentos?. Ele diz que ?no seu tempo? não havia a pressão insuportável que existe hoje. Uma vez viu uma prova de vestibular e disse que não seria capaz de responder às questões sobre sua obra. ?É uma complicação inominável. Um clássico é só um clássico?.
Gosta de falar sobre os livros de que tanto gosta, das lembranças da infância, dos pais, recitar trechos de Os Lusíadas e tudo o mais o emocionou. ?Admito que sou chorão, mas não esperava me emocionar tanto. Simplesmente me toca. É a emoção de um menino que foi apresentado a esse mundo maravilhoso de homens iluminados com uma chama que só pode ser divina?. E finaliza, ?os clássicos são a evidência da existência da divindade?.