Um balanço sobre os principais fatos culturais

Os principais fatos culturais do ano num balanço feito sob a ótica de quem escreveu o ano todo sobre estréias de filmes, shows e peças, vernissages de exposições, lançamentos de livros, apresentações de orquestras: os críticos e repórteres da área de cultura. No cinema, por exemplo, a conclusão é que um ano que teve Dogville, Encontros e Desencontros, Elefante, Spider, 21 Gramas, O Retorno, Má Educação, Fahrenheit 11/9, e tantos outros, não pode ser considerado pobre. E 2004 será lembrado também como o ano dos documentários, com 16 lançamentos nacionais do gênero nas telas, fora os estrangeiros. Na sociedade da imagem, haveria uma saturação da ficção esvaziada do cinema e da TV. O público estaria em busca de imagens autênticas e por isso apóia o documentário.

Nas telas do Brasil, os campeões de bilheteria foram Cazuza e Olga. Não tão bem sucedidos de público, De Passagem e Narradores de Javé ficam entre o que de melhor a ficção brasileira produziu no ano. E houve a confirmação do boom do cinema argentino. Nenhuma lista de melhores pode ficar completa sem O Pântano, de Lucrecia Martel.

Literatura

Também como o cinema, o ano da literatura se dividiu em importância entre ficção e realidade. De um lado, datas redondas como os 450 anos da fundação de São Paulo, os 50 do suicídio de Getúlio Vargas, os 40 da revolução militar, os 90 que completaria Júlio Cortázar (e os 20 de sua ausência), o centenário de Pablo Neruda. De outro, a denúncia de torturas no Iraque, a resistência das mulheres iranianas, a nova visão do colonialismo. Entre eles e tateando ambos os lados, a vitalidade da prosa feminina brasileira, o massacrante sucesso de O Código da Vinci, a consolidação das feiras literárias no País.

Nas artes visuais, a cidade ganhou a Estação Pinacoteca, que ocupou o desativado prédio do antigo Dops, no Largo General Osório, e se transformou numa extensão da Pinacoteca do Estado. A inauguração foi com obras do Stedelijk Museum de Amsterdã e a Estação também firmou parceria para ser um espaço expositivo permanente da importante coleção de arte moderna brasileira de José e Paulina Nemirovsky. Outro espaço inaugurado foi o Museu Afro-Brasil, sonho antigo de Emanoel Araújo (o novo secretário de Cultura da cidade de São Paulo). Aberta em outubro no Pavilhão Manoel da Nóbrega, no Ibirapuera, a instituição quer ser espaço de resgate da memória da cultura negra com política de inclusão.

Bienal

Foi também ano de Bienal de Artes, realizada pela primeira vez com entrada gratuita. Recebeu 917.218 visitantes no Parque do Ibirapuera. Também chamou atenção Picasso na Oca, maior retrospectiva do artista já realizada no País, com 126 obras vindas de Paris. Resultado: 905 mil visitantes. Em abril, o destaque foi a exposição de Nuno Ramos no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. Com Morte das Casas, ele fez chover, literalmente, dentro do prédio, no vão livre.

Música

Na música brasileira, o personagem do ano foi Seu Jorge – ele teve um DVD bacana na bagagem, atuação em grande estilo em filme de Hollywood, CD lançado na França, shows elogiados pela Europa e até brincou de apresentador de rádio e cantou com Luiz Melodia em festa de fim de ano. Foi também um bom ano para a manutenção do samba de qualidade.

Foi histórico o encontro de Nelson Freire e Martha Argerich na Sala São Paulo, promovido pelo Mozarteum. Na área lírica, o ano começou em Manaus com o Crepúsculo de Wagner, feito sem precedentes na história dos nossos teatros. Também do alemão, outra montagem digna de nota: Lohengrin, no Municipal de São Paulo.

Teatro

O teatro navegou na contracorrente da obsessão mercadológica. Permaneceu em cartaz e com boa saúde financeira uma reduzida versão da Broadway com encenações capitaneadas por atores de prestígio, oferecendo ao seu público noites memoráveis de entretenimento. Mas a grande maioria da produção foi liderada por grupos que pensam como um coletivo, arquitetam circuitos alternativos de exibição e barateiam seus ingressos a ponto de não poder suportar os gastos com o próprio trabalho.

Dança

Em dança, a sensualidade de Lecuona, do Grupo Corpo, conquistou público e crítica, apostando em 12 pas-de-deux e um final deslumbrante. Latinidade e paixão. Outro destaque foi Samwaad – Rua do Encontro, de Ivaldo Bertazzo, com filas quilométricas no Sesc Belenzinho

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