Um artigo de João Féder

Na coluna com que enriquece, consuetudinariamente, as páginas de O Estado, o dileto confrade e amigo João Féder, jornalista e escritor que honra e enriquece a cultura paranaense, escrevia há poucos dias um artigo intitulado ?Os 100 autores?. No mesmo, focalizava um livro de autoria de uma norte-americana, Christine N. Perkins, com o título original de 100 authors who sharped the world history, cuja tradução é da carioca Marise Chinetti de Barros.

Para começo de conversa, cerca de quarenta nomes integrantes do livro, de Homero e Virgílio a Faulkner e Steinbeck, são indiscutíveis. Outros sessenta, aproximadamente, são discutíveis; alguns, lamentáveis; outros, inaceitáveis; outros tantos, até catastróficos. É o caso de Edgar Rice Burroughs, criador do Tarzan, ou Stephen King, mestre do romance de terror.

Com diplomacia transparente e com aquela elegância quase aristocrática que é apanágio da arquitetura biopsicológica do mestre João Féder, ele deixou nas entrelinhas ou ?esqueceu no tinteiro? naturais restrições a muitos dos nomes arrolados por ?mistress? Christine.

Por outro lado, a norte-americana esqueceu ou preteriu autores simplesmente inesquecíveis, das mais variadas línguas e nacionalidades. Lembrarei apenas alguns (não todos, evidentemente) dos nomes que não poderiam ter tido esse tratamento. Qualquer um deles é esteticamente superior a qualquer um dos sessenta, cuja nominata vou omitir por questão de espaço.

Citarei apenas os que faltam na nominata centenária. Entre os brasileiros, apesar dos oito citados, faltaram pelo menos José de Alencar, Lima Barreto e Antônio Calado. E por que não Paulo Coelho? Entre os portugueses, Eça de Queiroz, Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha) e Antônio Lobo Antunes. Entre os franceses, Balzac, Stendhal, Flaubert, Zola, Romain Rolland, Martin du Gard, André Gide, Marcel Proust, André Malraux, Albert Camus e Jean-Paul Sartre. Entre os ingleses, Jane Austen, Sterne, Tackeray, Bernard Shaw, Graham Greene, Golding e Harold Pinter.

Entre os norte-americanos, Eugene O?Neil, Arthur Miller, Tenessee Williams, John dos Passos, Sherwood Anderson, Truman Capote, Norman Mailer e John Updike.

Entre os alemães, Goethe, Schiller, Musil, Broch, Wassermann, Kafka, Thomas Mann, Günther Grass e Heinrich Boll. Entre os belgas, Maeterlinck, Simenon e Margueritte Yourcenar. Entre os italianos, Leopardi, Pirandello, Carducci, Moravia, Svevo, Silone, Ungaretti, Montale e Quasímodo Entre os espanhóis, Lope de Vega, Unamuno, Jimenez, Guillén, Aleixandre e Camilo José Cela.

Entre os escandinavos, Bjornson, Ibsen, Strindberg, Sigrid Undset e Lagerkvist. Entre os russos, Gogol, Gorki, Turgueniev, Checov, Pasternak e Soljenitsen.

Entre os gregos, Platão (não apenas por ser o maior filósofo grego, mas por ser o criador da prosa literária, que muitas vezes tangencia a poesia pura), Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Séferis e Kawáphis. Mais o hindu Tagore, o japonês Kawakaba, o senegalês Senghor e o moçambicano Mia Couto. E temos, nas minhas nominatas precárias (e certamente incompletas), cerca de duas dezenas de Prêmios Nobel. E pelo menos sete gênios: Lope de Vega, Ibsen, Balzac, Goethe, Kafka, Proust e Thomas Mann.

Enfim, tenho uma suspeita: o nome da ?autora? do livro é apenas um pseudônimo da tradutora. Não seria a primeira vez que o fenômeno ocorre. O título em inglês é só para despistar…

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