Quem nunca ouviu falar em Holden Caufield? Aquele menino do livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger? E o menino Evandro Karvat, de Cascavel? Não sei por que, mas sempre faço uma relação entre o Caufield, de Salinger, e o estudante Evandro Karvat. E não há nada de errado nisso, a rigor. Porém, enquanto o Holden é apenas um personagem fictício de extrema sensibilidade, o Evandro é uma espécie de personificação disso tudo, ou seja, alguém capaz de dar muito mais ao mundo do que o mundo pede dele.
Em sua primeira exposição – "Olhares – Teu olhar melhora o meu" -, que abre nesta quinta-feira, na Sala Verde da Biblioteca Pública, Evandro pede que o "leiamos" com atenção, pede que nos atenhamos aos seus diálogos desenhados e aos seus olhares, iniciantes, porém consistentes.
A singularidade da exposição já começa pelo nome. Uma espécie de resignação aos "olhares do mundo", que segundo o estudante, foi sugerido pela colega Lila Lima. "Teu olhar melhora o meu" expressa a possibilidade de um olhar mudar a vida das pessoas.
"Ainda, permite a reflexão sobre a maneira com que nos olham, com que olham com a gente, com que nos mostram maneiras diferentes de olhar. Expressa também a interferência que o olhar dos outros tem na nossa vida", diz, lembrando que foi analisando a potencialidade do olhar que obteve a idéia de nomear a exposição. "Através do olhar conseguimos notar sentimentos, verdades, definir se a pessoa terá créditos com a gente ou não. Como diz o chavão: reflete nossas intenções", complementa.
Na exposição, o público poderá ver uma seleção de 12 olhares que representam diversas reações humanas: susto, suspense, relaxamento, indiferença, reflexão, conhecimento, tristeza, sensualidade, autoconfiança, entre outros. Segundo o artista, o resultado de uma necessidade de retratação. "Acredito que a arte se expressa por si própria, só utiliza o artista como mediação para nascer. Não imaginava que fosse caber tão certo em uma exposição, mas a maioria dos sentimentos está expressa e eu só notei isso depois de ter selecionado as obras".
O observador com um mínimo de imaginação verá que Evandro Karvat mostra, através de sua criação, as suas respostas sobre o mundo dos "homens", sobre o ser o não-ser, enfim sobre a poética dos olhares. A exposição é uma realização da Prefeitura de Cascavel, através da Secretaria da Cultura.
O Menino
Filho dos agricultores Leopoldo e Eliane Karvat, Evandro, 21 anos, nasceu no distrito de São João d´Oeste e ficou lá até os 15 anos, junto com os pais e o irmão, Fernando. Das lembranças da infância, as brincadeiras nos invernos rigorosos, o entardecer, as conversas à beira do fogão à lenha e, é claro, os primeiros desenhos. "Comecei a desenhar aos sete anos e o que me levou a continuar foi o gosto pela arte, mesmo. Não sei se isso se define como dom, porque – de fato – é estranho, mas nunca fiz nenhuma aula de desenho e sequer tive influências de quem sabia mais do que eu", explica.
Em Cascavel há seis anos, Evandro se define como um sonhador, "mas que anda um pouco mais firme no chão". "Aprendi muito vindo para a cidade e fico cada vez mais ansioso em saber o que vai acontecer no futuro… mas sei esperar", fala com uma maturidade de quem já passou dos 40.
O Apanhador
Quanto à sua relação com Caufield, Evandro é enfático. "Me emocionei ao ler a história de Salinger, porque o personagem Holden Caufield se parece bastante com o que sou (ou o que pretendo parecer). Holden pensa que se tivesse uma porção de garotinhos brincando em um campo de centeio, com ninguém por perto, e se algum deles corresse na direção de um abismo ele gostaria de ser o adulto que está preparado para segurá-los. Algo bastante simples, mas é só isto que ele deseja", diz. "Ele vê os detalhes da vida, é simples. Holden é algo que eu gostaria de ser: um observador dos detalhes da alma das pessoas". E precisa mais?
EVENTO
Exposição: "Olhares – Teu olhar melhora o meu"
Data: de 1º a 26 de junho
Local: Sala Verde da Biblioteca Pública
Horário de visitação: das 8 às 19 horas