Último episódio de “O Senhor dos Anéis” é o campeão do Globo de Ouro

Rio de Janeiro – O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei foi o grande vencedor da noite de entrega do Globo de Ouro, na noite de domingo, em Beverly Hills, Califórnia. O épico levou quatro prêmios, incluindo melhor drama, diretor (Peter Jackson), trilha sonora (Howard Shore) e canção (Into the West com Annie Lennox). Foi uma vitória expressiva – especialmente para Jackson, força-motriz do projeto desde o início – no ano em que se completa a ousada trilogia inspirada nos livros de J. R. R. Tolkien.

Na categoria musical ou comédia, o vencedor foi Encontros e Desencontros, premiado também nas categorias roteiro (para Sofia Coppola, que também assina a direção) e ator de musical ou comédia (para Bill Murray). Um dos favoritos da noite, Sobre Meninos e Lobos garantiu dois prêmios, melhor ator de drama (para Sean Penn) e melhor ator coadjuvante de drama (para Tim Robbins). Nicole Kidman entregou o prêmio de Penn, ausente da festa no Beverly Hills Hilton, a Clint Eastwood, diretor do longa. Com isso, salvou-se do embaraço de reencontrar o ex-marido Tom Cruise, também indicado, na frente das câmeras.

A maior decepção ficou por conta de Cold Mountain, filme que tinha o maior número de indicações – incluindo filme, ator para Jude Law e atriz para Nicole Kidman – e levou só um prêmio, o de melhor atriz coadjuvante em filme dramático (para Renée Zellweger).

Outra surpresa foi o Globo de Ouro de melhor atriz para a bela sul-africana Charlize Theron, pelo papel da prostituta e serial-killer de Monsters. Ela era uma das louras menos cotadas para a categoria, na qual competiam Cate Blanchett, Nicole Kidman, Scarlett Johansson, Uma Thurman e Evan Rachel Wood. A bonitinha Scarlett, para muitos favorita, saiu perdendo duas vezes: não levou o prêmio de melhor atriz nem de drama, nem de comédia.

A ganhadora do prêmio na última categoria, por Something?s Gotta Give, Diane Keaton, protagonizou um dos momentos mais divertidos da festa informal, que durou pouco mais de três horas. A atriz de 57 anos agradeceu a chance de interpretar uma mulher apaixonada por Jack Nicholson no longa e justificou a gratidão: “Juntos nós temos 125 anos, não é pouco”, disse Diane, para desespero do veterano Jack, na platéia. Muito aplaudido, o diretor do afegão Osama, Siddiq Barmak, evitou fazer um discurso político quando subiu ao palco para agradecer o prêmio de melhor filme estrangeiro.

Dois universos (ainda) diferentes

Existe um mito na imprensa brasileira segundo o qual o Globo de Ouro é uma prévia do que vai acontecer na entrega do Oscar. Quem ganha o Globo possui melhores chances no Oscar. Mentiras e bobagens. São dois universos diferentes. Os eleitores do Oscar são os membros da Academia, a maioria produtores, ex-diretores, cinematógrafos, atores e atrizes. Gente do poder e do dinheiro. Por outro lado, os votantes do Golden Globe são exclusivamente jornalistas, membros da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood -um povo com muito mais credibilidade que os viciados sócios da Academia.

O Globo de Ouro foi criado em 1944, justamente com esse intuito: distinguir-se o máximo possível da votação da Academia. Em 1951, os organizadores decidiram pela primeira mudança, ou seja, separar os filmes considerados “drama” dos “comédia/musical”. Em 1970, numa nova mudança, a premiação também foi para as produções de televisão.

Diretores, roteiristas, diretores de fotografia, técnicos em geral e atores respeitam muito mais os prêmios do Globo do que os do Oscar. É uma espécie de confraternização da comunidade. Mas o que se viu na noite de domingo foi uma queda na qualidade da escolha dos vencedores.

Estariam os jornalistas estrangeiros cedendo às pressões financeiras, principalmente dos superprodutores da Sony, Miramax, Warner, Fox, etc.? Quero acreditar que os bravos correspondentes em Los Angeles estão mantendo a integridade, apesar do poder das verdes.

Ao ver Sofia Coppola arrebatando três dos principais prêmios com seu filme bonzinho, mas chinfrim e previsível, lembrou-me mais o glamour da noite do Oscar, quando se enche de prêmios o filme mais comercial do ano. Encontros e Desencontros é uma típica comédia de costumes americana, que Hollywood produz aos borbotões todos os anos.

Outros premiados também seriam muito mais apropriados à noite da Academia. O Retorno do Rei, de Peter Jackson, ganhou quatro globos. OK. Foi difícil fazer uma superprodução nos moldes de Cleópatra, Ben-Hur e Os Dez Mandamentos. Coisa de Oscar, não de Globo.

Do bem

Gente do bem e de qualidade cinematográfica, como Clint Eastwood e seu esplêndido Sobre Meninos e Lobos, ficou a ver navios. Dois pontos positivos: o afegão Siddiq Barmak vencer como melhor filme estrangeiro, com seu Osama, e a melhor atriz do momento, a sul-africana Charlize Theron ser agraciada pela sua atuação em Monsters. Foi a mais aplaudida da noite.

Por último, nada poderia ser mais marqueteiro do que o Michael Douglas, ator comum e muitas vezes canastrão, receber o prêmio Cecil Blount de Mille pelo conjunto da obra. Que obra? Filmes rotineiros como Black Rain, Wall Street e Atração Fatal. O Golden Globe ainda é uma homenagem mais confiável do que o Oscar, mas pelo que foi visto anteontem no Hilton Hotel, está com fortes tendências para cair na tentação do jabá, e pular para o universo paralelo da Academia.

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