São Paulo – O mesmo diretor, o mesmo bar, os mesmos amigos, o mesmo país, o mesmo esporte: o futebol. Quase sete anos depois de ?Boleiros – Era Uma Vez o Futebol?, o diretor Ugo Giorgetti volta a apostar no futebol como metáfora do Brasil e começa a filmar Boleiros 2, no dia 29. O filme será uma espécie de continuação do longa de 1998 que retratava de forma mais que bem-humorada o cotidiano, as histórias e a vida de um grupo de amigos reunidos em volta da mesa de um boteco.
Ironicamente, assim como o universo dos personagens, as dificuldades para concluir um filme no Brasil também continuam. Mas a persistência dos apaixonados por bola e por cinema também se mantém. ?Já levantamos metade do orçamento total de R$ 4 milhões e vamos começar a filmar assim mesmo?, conta o diretor. ?Esse é, talvez, um dos trabalhos mais amadores do cinema brasileiro atualmente, pois muita gente está no projeto porque acredita nele e me acompanha. Quando virem o filme na tela, muitos vão se perguntar como conseguimos.?
As filmagens vão se concentrar em Alphaville, sede da produtora 5.6, de Carlos Eduardo Nunes, que se associou a Giorgetti no projeto. ?Manteremos o mesmo bar onde os amigos se reúnem no primeiro filme, mas ele será modernizado. Além disso, vamos retratar os jogadores de hoje, as jogadas financeiras e seu empresários. Afinal, muitas coisas permanecem iguais, mas o universo do futebol mudou muito nestes anos, assim como a sociedade, os valores?, conta Giorgetti. ?O epicentro de ?Boleiros 2? é grana. Há toda a balbúrdia de empresários, agentes, times estrangeiros, advogados, marias-chuteiras?, adianta Nunes.
Boleiros é um filme popular. Uma rara receita de qualidade cinematográfica que dialoga com os mais variados espectadores, de cinéfilos a torcedores da Gaviões da Fiel. Contando com o público dos cinemas, exibição na TV, home vídeo, exibições especiais dentro e fora do País, ?Boleiros? atingiu aproximadamente 3 milhões de espectadores. O filme também foi sucesso de crítica e ganhou o prêmio de direção no Festival Internacional do Filme de Amiens, na França. Era de se esperar que a captação para uma possível continuação fosse tarefa um tanto mais fácil. ?Apesar de o projeto estar aprovado para captação de recursos na Lei Audiovisual e na Lei Rouanet, ainda falta uma parte importante do orçamento total para ser levantada?, comenta o diretor, que resolveu voltar a fazer um filme sobre o universo do futebol após as experiências que teve com esse público tão variado. Boleiros 2 é um filme que oferece drama, muita comédia e, esperamos, criatividade. Como o futebol brasileiro em seus melhores dias.?
Do elenco original, voltam a campo Otávio Augusto, Flávio Migliaccio, Denise Fraga, Cássio Gabus Mendes e Lima Duarte. A atriz Suzana Alves (ex-Tiazinha) fará o papel de uma maria-chuteira. ?Ela não é uma maria-chuteira clássica. É uma menina do subúrbio paulistano, que namora o jogador antes da fama e, depois que ele volta milionário do exterior, procura por ele com uma criança no colo, dizendo que é seu filho e exige pensão?, conta Giorgetti. Explicando melhor, o tal jogador será um típico craque brasileiro exportado para a Europa, que volta ao Brasil e se torna sócio do famoso Bar do Aurélio, tradicional reduto de ?boleiros?. ?Ele volta ao País pela primeira vez depois que se torna pentacampeão mundial e conhece o bar, que passou por uma reforma geral, fica mais moderno, mas também com um ar mais comercial, perde um pouco do clima caseiro, assim como o que vem ocorrendo com nosso futebol nos últimos anos?, conta o cineasta. O titã Paulo Miklos (que fez seu debut no cinema em O Invasor, de Beto Brant) vive o empresário desse jogador. ?A presença desse astro atrai a estranha fauna de oportunistas que cerca hoje não só o futebol, mas todas as atividades que oferecerem a possibilidade de lucro rápido?, explica. Haverá também cenas rodadas em um estádio.
Por abordar com muito bom humor um assunto tão profícuo e familiar ao brasileiro, Boleiros 2 tem tudo para repetir o sucesso do original. Até agora, o cineasta e seus sócios já conseguiram o apoio da Petrobras, W/Brasil, governo do Estado de São Paulo, Indiana Seguros. ?O que captei deve ser suficiente para rodar o filme. Mas não há verba para a pós-produção, ou seja, para montar, mixar, musicar, lançar o filme?, conta. Giorgetti defende a tese de que fazer cinema no Brasil ainda é uma atividade que tem um quê de amadora. ?É, antes de tudo, uma paixão. Não é fácil ser produtor independente. É muitas vezes uma luta solitária, que nos deixa exauridos.? Além de Boleiros 2, ele acaba de filmar um documentário sobre pizzas, co-produção com a TV Cultura, ainda sem título.