Piadas repetidas, bordões infames e personagens antigos são uma constante nos atuais programas de humor da televisão brasileira. Basta ver as produções voltadas para a comédia para chegar à conclusão que falta renovação neste departamento. Emissoras como Globo e SBT, as únicas que atualmente produzem programas deste tipo no Brasil, acabam preferindo, no entanto, manter o time que não está perdendo antes de experimentar novas aventuras. Isto porque, mesmo já conhecidos do público, os humorísticos são líder de audiência nos horários em que são exibidos, como “A Turma do Didi”, “Casseta & Planeta, Urgente!” e “Zorra Total”.
O programa de humor mais novo atualmente é “Os Normais”, que a Globo exibe pela terceira temporada. Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres garantem, porém, que a produção não emplaca o segundo semestre de 2003. A falta de fôlego já se fazia sentir. Tanto que a entrada de Selton Mello e Graziella Moreto para o elenco fixo de “Os Normais” foi uma tentativa de ampliar o universo dos noivos Ruy e Vani. Agora a dupla de autores Fernanda Young e Alexandre Machado poderá tratar de outros temas, em vez de ficar restrita à relação de Ruy e Vani e arejar as tramas dos episódios exibidos nas noites de sexta-feira. Mas a verdade é que “Os Normais” tem uma temática limitada focada na relação homem/mulher e já começa a ficar previsível.
O “Casseta & Planeta, Urgente!”, que foi a grande novidade humorística da tevê brasileira nos anos 90, também não empolga tanto. Cada vez mais os sete humoristas apelam para piadas de baixo calão, que culminam mais em grosseria e humor negro do que em tiradas inteligentes. Além disso, os comediantes, antes críticos à utilização de bordões, mudaram de opinião, depois que o programa virou semanal. Tanto é que começam o ano apostando no sumiço do Seu Creysson, vivido por Cláudio Manuel, com o seu infame “eu agarantiu”. A postura meio acomodada da turma deixa o programa recheado de piadas batidas. Seja explorando o homossexualismo como tema, seja exibindo gostosinhas de plantão – além de Maria Paula, receberam como convidada a ex-BBB Sabrina. Cada vez mais se assemelha a programas antigos que, no início, combatiam, como “A Praça é Nossa”, do SBT, e “Zorra Total”.
Na cola dos antigos
Na verdade, a maioria dos humorísticos são baseados em originais para lá de antigos. Isto vai desde o “remake” de “A Grande Família” até “A Turma do Didi”, de Renato Aragão, ou “Escolinha do Barulho”, cópia da extinta e pioneira “Escolinha do Professor Raimundo” que a Record está reprisando no horário vespertino. “Zorra Total”, da Globo, e “A Praça É Nossa”, do SBT, viraram verdadeiros depósitos de velhos personagens da comédia televisiva alguns até da comédia radiofônica. Chico Anysio, por exemplo, que por muito tempo ficou sem função na Globo, voltou a aparecer no humorístico há poucos meses. O comediante prova que piada antiga pode funcionar, desde que bem contada. A histórica “A Praça É Nossa” também acaba sendo um dos poucos espaços para a velha-guarda do humor brasileiro. É lá que ainda pode-se ver o personagem Zé Bonitinho, de Jorge Loredo, por exemplo, que apesar de engraçado, reforça a tese de que, no caso do humor, o público muitas vezes prefere rir do que já conhece do que correr o risco de prestar atenção em uma piada nova e sem graça.
Inovando
O humor mais ousado feito na tevê atualmente vem da turma do “Hermes e Renato”, que a MTV exibe desde 2000. Os garotos começaram com inserções de um minuto e atualmente já têm um programa de meia hora por insistência da audiência da emissora. “Hermes e Renato” tem influências óbvias do “Casseta & Planeta” e podem pesar a mão com piadas escatológicas, eróticas e de humor negro porque estão numa emissora de nicho, diferentemente de Globo e SBT, que pretendem atingir a uma enorme gama de público. Já as outras emissoras generalistas, como Rede TV!, Record e Band, bem que poderiam arriscar novas produções humorísticas, já que têm muitos horários com audiências comparáveis à da MTV. Mas mesmo estas preferem produzir quadros com pegadinhas e manter a audiência do espectador que se deleita em rir da desgraça alheia.