Fernando Lima, presidente da TVE/Rede Brasil. |
A maior parte desses espectadores, cerca de 85 por cento, está nas classes D e E. Classes formadas por pessoas pobres e muito pobres, a maior parte de analfabetos ou gente que mal sabe assinar o nome. Esse povo, apesar de vivermos num país tropical, compra o aparelho de tevê antes da geladeira.
Na verdade, para eles, a tevê sabe tudo, é um semideus. Está, ao vivo, nos grandes estádios e desastres, faz o povo rir e chorar no mesmo programa, viaja pelo espaço nas grandes naves espaciais e caminha dentro do corpo da gente. Quem aparece e fala na tevê é o dono da verdade. Agora mesmo, estamos vendo a dança das pesquisas dos candidatos à presidência quando aparecem na tevê. Nenhum veículo de comunicação de massa, em toda a história da humanidade, teve a força, o significado e a importância da tevê. Ela não tem mais limites.
Entretanto, e essa é a pergunta que eu sempre faço, para que serve essa televisão tão forte num país do terceiro mundo? Quais são os verdadeiros compromissos da televisão com o seu povo e o seu país? A televisão deve ser apenas um veículo de divertimento, de prazer, de sensacionalismo ou, antes de tudo, deve educar, informar para depois divertir? Com o incrível avanço da tecnologia, a tevê deve ser apenas progresso ou, sobretudo, civilização?
Sabemos que a tevê comercial coloca sempre o sentido comercial acima do sentido público. É com esse princípio que ela se transforma num grande bazar, num supermercado eletrônico, numa grande vendedora de bebidas, automóveis, bancos, telefones, políticos, etc… Nivelando-se sempre por baixo, buscando os grandes índices do Ibope, a tevê comercial acaba vendendo sua alma ao Diabo. Um brasileiro, que mal sabe assinar o nome, mas sabe ligar um televisor, passa horas e horas por dia vendo programas como o “Big Brother” ou “Casa dos Artistas”.
Programas como as excelentes minisséries, baseadas em literatura brasileira, são sempre programados no fim da noite. Em qualquer país do mundo, não existe crescimento econômico sem o crescimento cultural. Um caminha ao lado do outro, consolidando o sentimento de Nação. Daí, a grande responsabilidade social da TV Pública.
Ela pode ser o contraponto da TV comercial. O compromisso da TV Pública é o de acrescentar sempre novos conhecimentos para o nosso povo. É mostrar o Brasil aos brasileiros, buscando o nosso folclore e a nossa cultura regional. Trazer para a frente das câmaras gente que tem algo a dizer e ensinar, como jornalistas, professores, cientistas, músicos, políticos, gente do campo. Buscar sempre novas idéias, principalmente, junto à nossa juventude.
Debater abertamente os nossos grandes problemas como Nação, discutir a nossa economia, a nossa cultura e os direitos de cada cidadão. Defender um Brasil melhor, sem fome, com mais saúde e educação. Fazer do esporte uma grande mania nacional. Defender os interesses dos idosos e das crianças. Fazer da Medicina preventiva uma programação permanente. Tudo isso se chama responsabilidade social. Tudo isso deve ser o verdadeiro sentido de uma TV Pública.
Acho que a TV Pública tem diante de si uma grande e única oportunidade. Esse é o espírito da TVE e da Rede Brasil. É nele que eu acredito. E o público também acredita -já estamos em terceiro lugar em audiência, no Rio de Janeiro, entre as classes A, B e C. E, nesse caminho, vamos continuar trabalhando para ampliar a nossa audiência, oferecendo sempre qualidade e respeito ao público.