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Tudo é descartável no thriller psicológico Animais Noturnos

Nas passarelas e nas lojas, o estilista Tom Ford é sinônimo de elegância. Ao vivo, também. Seu primeiro filme, Direito de Amar (2010), era feito de casas deslumbrantes e roupas idem. Mas no segundo, Animais Noturnos, a coisa é um pouco diferente.

Ford começa o longa-metragem, adaptado de um livro de Austin Wright, com mulheres obesas dançando nuas, numa cena em que mistura fascínio e uma crítica ao universo da arte contemporânea. Susan (Amy Adams), a personagem principal, é uma artista visual frustrada que virou galerista. Seu mundo é luxuoso: ela mora numa construção modernista, é casada com um homem de negócios bonito e rico (Armie Hammer), mas sua vida é vazia. Tudo muda quando ela recebe as provas do primeiro romance de seu antigo amor, Edward (Jake Gyllenhaal). Em pouco tempo, Susan é tragada para o mundo do livro dentro do filme, em que Tony (vivido por Gyllenhaal) vê sua mulher (Isla Fisher) e sua filha serem levadas por um trio liderado por Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson), um violento “redneck”.

O segmento é sujo e visceral. “Era preciso, porque o objetivo da história dentro da história é que Edward está dizendo para Susan: ‘Isso é o que você fez comigo. Foi assim que me fez sentir’”, disse Tom Ford em entrevista ao Estado em Londres.

O cineasta, que concorre a dois Globos de Ouro (direção e roteiro), afirmou que não foi difícil mergulhar nesse universo. “Eu cresci no Texas, então não tem nada de estrangeiro para mim, conheço muito bem.”

Em dado momento, o assustador personagem vivido pelo inglês Aaron Taylor-Johnson é visto sentado num vaso sanitário instalado em sua varanda. “A ideia era mostrar como ele ainda é ameaçador e manipulador, mesmo nesta situação vulnerável”, disse o ator, que leu bastante sobre psicopatas e “serial killers” para viver o personagem. “Eles costumam ser bem carismáticos. Sua imprevisibilidade é que é aterrorizante.” Para ele, foi difícil lidar com esse lado sombrio, até por ser pai de duas meninas pequenas. “Fiquei perturbado, não conseguia dormir. Virei um animal noturno.” A dedicação valeu a pena: Taylor-Johnson concorre ao Globo de Ouro de coadjuvante.

Como no seu primeiro filme, que falava de amor e homossexualidade, Animais Noturnos é uma história pessoal para Tom Ford. “Quis falar como o importante na vida é encontrar pessoas que se ama, que lhe dão felicidade, que amam você, e ficar com elas. Este é um aviso sobre o que pode acontecer se você jogar essas pessoas fora”, explicou o diretor.

Ford é casado desde 2014 com o jornalista Richard Buckley, com quem tem um relacionamento há 30 anos. Os dois têm um filho de 4. “Como o personagem de Jake diz, ninguém escreve sobre nada a não ser sobre si mesmo. Então me identifico muito com o que Susan está passando e também com o que Edward está passando. Ambos são autobiográficos, apesar de serem lados diferentes da minha vida”, afirmou ainda.

Com seu personagem ficcional, Edward, também discute o que é masculinidade. “Cresci no Texas, num mundo em que homens precisam ser homens. Precisam ser fortes. Precisam ganhar muito dinheiro. Precisam cuidar de suas famílias. Precisam saber usar armas. E Edward não é isso – e nem eu era, quando criança ou jovem”, contou o diretor. “Ele é sensível, é um escritor. Mas, no fim, ele vence, insiste em seus sonhos e escreve um grande livro”, acrescentou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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