Destaque no recente Festival de Cinema Judaico de São Paulo, o filme Tudo Acontece em Nova York deveria ter trazido à cidade o casal de cineastas Ruben Amar e Lola Bessis, mas a dupla teve de cancelar a visita quando praticamente já estava indo paras o aeroporto.
Conversaram pelo telefone com o repórter do jornal O Estado de S.Paulo. Baseados em Paris, ambos se conheceram por intermédio de amigos comuns na Tunísia. Ele já era diretor de curtas, ela estava se graduando em literatura. De uma temporada em Nova York, tiraram o filme que estreou nessa quinta-feira, 21. Tudo Acontece já passou com êxito em numerosos festivais. Sem ser um grande filme, é simpático, caloroso.
A cultura judaica serve de fundo para a história da aspirante a artista visual que deixa a França para fugir à sombra da mãe famosa e irrompe na vida de um casal nova-iorquino. O filme nasceu, ‘muito organicamente’, dizem os diretores, daquilo que viam e observavam em Nova York, onde Lola foi cursar a academia de cinema. “É uma história de descoberta e amadurecimento pessoal, e era assim que nos sentíamos, descobrindo a América e eu, ainda por cima, adestrando meu olhar para me tornar diretora”, conta Lola. Amar acrescenta. “Filmávamos tudo o que víamos com celulares, e essa foi a base para nossa pesquisa. De volta à França, tínhamos um projeto de filme que conseguimos viabilizar com poucos recursos.”
Uma observação meio óbvia para o cinéfilo que vai assistir a Tudo Acontece em Nova York. O filme promove a fusão do cinema indie norte-americano com velhas lições remanescentes da nouvelle vague, o movimento que sacudiu o cinema da França há mais de 50 anos. “Todo mundo percebe essas influências, mas é porque estamos fazendo cinema autoral, e barato. Isso meio que nos forçou a sermos rápidos e a improvisar durante a filmagem, mesmo que o filme tenha sido muito pensado durante a preparação.” Amar explica. “Já ouvimos que o realismo do nosso filme é superficial, mas isso é intencional, para refletir o mundo em que vivemos”, ele acrescenta.
“Terminou virando nossa carta de amor a Nova York”, afirma ainda Lola, que cita John Cassavetes, Woody Allen e Spike Lee como alguns dos diretores preferidos do casal. “Assim como os filmes de Woody Allen são impregnados de humor judaico, tornou-se natural que também nós refletíssemos sobre diferenças culturais e a herança do judaísmo. Paris é muito diferente de Nova York, mas é incrível como, nesse meio, as coisas terminem sendo parecidas, senão iguais. Já fiz curtas em Tel-Aviv e sei o que digo. A religião é um dado cultural muito forte, e nosso filme reflete isso”, acrescenta Ruben Amar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.