O que significa ser cool? Frequentar bares sofisticados? Conversar sobre literatura francesa? Citar Nietzsche a cada meia dúzia de frases? Vestir-se de maneira meticulosamente desarrumada? Viver de maneira propositalmente boêmia? Nada disso (e tudo isso), ao mesmo tempo. O disco de estreia da banda Les Pops tenta entender essa onda ‘cabeçóide’. Os intelectuais estão na moda e, para eles, isso é motivo para tirar um sarro.
O nome do álbum já contém a primeira das muitas ironias: “Quero Ser Cool”. “As pessoas entraram nessa de querer ser muito modernas. Isso é coisa da zona sul do Rio de Janeiro”, explica Daniel Lopes, de 33 anos, carioca da gema. Responsável por alguns dos vocais, além de tocar guitarraxo (calma, isso será explicado mais à frente), Daniel, ao lado de Thiago Antunes (voz, ukelele e banjo) e Rodrigo Bittencourt (voz e guitarra), forma o trio Les Pops. Para a gravação do CD de estreia, eles tiveram a companhia do amigo Raphael Rapreto na bateria.
A vontade de brincar com essa onda modernete vem de dois fatores. Primeiro: os três não cresceram na zona sul, conhecidamente com maior poder aquisitivo, que abriga os bairros mais famosos do Rio de Janeiro, como Ipanema, Leblon e Copacabana. “Somos suburbanos”, diz Daniel, nascido e criado em Bangu, na zona norte, assim como Rodrigo, natural do Méier. Thiago é o único paulista, de Campinas. Outro motivo para a animada jocosidade, justificam eles, é o fato de já terem todos 33 anos. Com a maturidade, eles se veem capazes de brincar com a tal onda chique. “Agora, para fazer sucesso, precisa ser moderno”, diz o guitarraxeiro, como ele mesmo se denomina.
Voltando ao guitarraxo… As pessoas devem se perguntar “mas que diabos é isso?”. Segundo Daniel, é simples: trata-se, na verdade, de uma guitarra tocada como se fosse um baixo. “Não tínhamos um baixista. Tentamos dois, que faltaram nos ensaios. Eu me propus a tocar guitarra desse jeito e estou gostando”.
O Les Pops, criado há um ano, brinca com a nova onda do chique. Faz piada com o moderno. Mas eles são, também, parte desse movimento sócio-musical. E sabem disso. Talvez, seja essa a maior graça de tudo. “Quero Ser Cool” é um álbum que preenche todos os requisitos: eles fazem uma música cheia de referências nacionais e internacionais, versos simples sem deixar a inteligência de lado. No visual, a banda também não deixa barato, e faz uso do chique desleixado. As informações são do Jornal da Tarde.