Isla Negra – Os fãs do poeta chileno Pablo Neruda homenagearão o escritor 30 anos depois de sua morte, na casa que ele construiu junto ao mar e onde escreveu muitos de seus versos. Escritores, artistas, artesãos locais e amigos do poeta visitarão hoje a casa, transformada em museu, para lembrar o autor de Canto Geral, que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em outubro de 1971, dois anos antes de sua morte.
Neruda foi enterrado no jardim da casa, de frente para o mar e sob o campanário, ao lado de sua última esposa, Matilde Urrutia, com quem teve um caso antes de formalizar seu divórcio da pintora argentina Delia del Carril. “Em minha casa reuni brinquedos pequenos e grandes, sem os quais não poderia viver”, escreveu o poeta em suas memórias, ao comentar sua estranha mania de colecionador.
Na casa de Isla Negra, uma aldeia tranqüila da costa central do Chile, 100 km a oeste de Santiago, as coleções de garrafas e insetos, que Neruda recolhia durante suas viagens pelo mundo como poeta, diplomata ou um simples turista, permanecem intactas.
“O menino que não brinca não é um menino, mas o homem que não brinca perdeu para sempre o menino que vivia dentro dele e que lhe fará muita falta. Também construí minha casa como um brinquedo e brinco nela da manhã até a noite”, acrescenta Neruda num trecho do livro Confesso que Vivi. O presidente Ricardo Lagos e alguns de seus ministros também se reunirão no jardim da residência para homenagear Neruda.
Nascido na cidade de Parral no dia 12 de julho de 1904, Neftalí Reyes Basualto se tornou Pablo Neruda antes de completar 15 anos, quando escreveu seus primeiros versos, e nem imaginava se tornar um dos poetas latinos mais universais. De Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada até os Versos do Capitão, a poesia de Neruda trata do cosmos, da água, do ar, das raízes históricas ou dos problemas do homem simples e das relações humanas.
Senador
Suas preocupações sociais o fizeram tornar-se senador em 1945, integrando a coalizão Progressista Nacional. Naquele ano, aderiu formalmente ao Partido Comunista, graças à influência de sua segunda esposa, a pintora argentina Delia del Carril.
Delia, apelidada de ?Formiguinha? e 20 anos mais velha que Neruda, conheceu o poeta em Madri, em 1935, num momento em que eles freqüentavam os mesmos encontros intelectuais dos quais participavam Federico García Lorca e Rafael Alberti, entre outros.
Clandestino
Quando o Partido Comunista foi proibido em 1948, Neruda fugiu clandestinamente para a Argentina, e de lá seguiu para a Europa, onde viveu durante cinco anos no exílio entre Itália, França e outros países. No México conheceu a soprano Matilde Urrutia, que se tornaria sua última musa, e provocaria sua separação de Delia del Carril, num episódio que dividiu os admiradores de sua poesia.
Ao voltar para o Chile, foi candidato à presidência em 1969, mas desistiu da candidatura em favor do líder socialista Salvador Allende, que venceu a eleição em setembro de 1970. Durante o governo de Allende, Neruda foi embaixador do Chile na França, onde, em outubro de 1971, recebeu a notícia de que havia vencido o Prêmio Nobel.
Retornou ao seu país no início de 1973 para refugiar-se em sua casa de praia, onde morreu, vítima de câncer, aos 69 anos, no dia 23 de setembro do mesmo ano.
Duas semanas antes, o presidente Allende havia cometido suicídio no palácio de La Moneda, durante o golpe que instalou a ditadura do general Augusto Pinochet.