Tributo necessário na 26.ª Mostra

Cineasta brasileiro com carreira internacional, Alberto Cavalcanti (1897-1982) é homenageado pela 26.ª Mostra BR de Cinema – Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ao lado do italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) e do russo Aleksandr Sokúrov. O evento, que acontece de hoje até final do mês em treze salas paulistanas, exibe na retrospectiva dezessete títulos realizados entre 1926 e 1955 na França, na Inglaterra, no Brasil e na Áustria, e coincide com o 20.º aniversário da morte de Cavalcanti.

Cavalcanti teve contribuição decisiva para a avant-garde francesa dos anos 1920, para o documentarismo britânico da década seguinte e para o renascimento do cinema brasileiro do início da década de 1950. Apesar de ter sido o cineasta brasileiro mais famoso no exterior, muitos de seus filmes permanecem inéditos no Brasil. Para o francês Georges Sadoul, suas obras criadas em completa liberdade estão marcadas “pela sua sensibilidade, o seu sentido das realidades humanas e sociais, o seu refinamento plástico, a sua inteligência e o seu amor apaixonado pelo cinema.”

Nascido no Rio de Janeiro, sua carreira artística começou em Paris, onde veio a falecer. Depois de estudar arquitetura na Suíça, ingressou no cinema em 1922, como assistente e cenógrafo de Marcel L’Herbier. Convidado por John Grierson, integrou o movimento documentário do GPO e assinou uma das obras-primas do gênero, Cara de Carvão. Ao retorno ao Brasil em 1949, participou da Vera Cruz (foi produtor geral), dirigiu filmes, elaborou o primeiro projeto para o Instituto Nacional de Cinema, publicou Filme e Realidade – Uma Reflexão Pioneira sobre o Cinema Brasileiro. De volta à Europa, trabalhou com Bertold Brecht e Joris Ivens, entre outros.

A retrospectiva promovida pela 26.ª Mostra, com curadoria do jornalista Cláudio Valentinetti, inclui clássicos da fase francesa de Cavalcanti, como o documentário experimental Rien Que Les Heures (1926), a comédia surrealista A Pequena Lilie (1927) e o drama En Rade (1927). Entre os filmes dirigidos na Inglaterra serão exibidos Pett and Pot (1934), criado para difundir o uso do telefone, Cara de Carvão (1936), que aborda as agruras dos trabalhadores em minas de carvão, além de outros documentários e longas, como o drama Nas Garras da Fatalidade (1946/1947).

A presença de Cavalcanti no Brasil está representada por três longas dos anos 50, entre eles Mulher de Verdade (1954), protagonizado por Inesita Barroso e Adoniran Barbosa. Completa a retrospectiva O Sr. Puntilla e Seu Criado Matti (1955), um musical produzido na Áustria e baseado em texto de Bertold Brecht (que co-escreveu o roteiro com Cavalcanti). Uma mesa-redonda e workshop sobre o cineasta também estão no programa no evento.

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