Três Irmãos: conflitos que fascinam pela sua humanidade

Havia gente fazendo fila pelas escadas internas do palais para assistir à versão restaurada de Lucky Luciano, em Cannes Classics, há duas semanas. A maioria, incluindo o repórter, foi atraída pela promessa de que o próprio diretor Francesco Rosi iria apresentar seu clássico de 1973. No final, Rosi não apareceu. Aos 90 anos – e cinco meses, como destacou o diretor da Cinemateca de Bolonha, responsável pela restauração -, o cineasta ficou preso ao leito, em Roma, devido a complicações pulmonares decorrentes de uma gripe. Mas houve uma recompensa, que talvez se estenda ao DVD ou Blu-ray de Lucky Luciano, quando o filme for lançado nesses suportes.

Martin Scorsese gravou, especialmente para Cannes Classics, uma apresentação destacando a importância do filme sobre o mítico mafioso. Você pode, eventualmente, desgostar de certos títulos recentes da filmografia de Scorsese, mas não colocar sob suspeita a acuidade de suas análises críticas – nem o amor pelo cinema, que o tem levado a se bater pela restauração de clássicos ao redor do mundo. Outro clássico de Francesco Rosi está agora disponível para o público de DVD e chega amanhã (6) às lojas.

Três Irmãos é de 1981. Philippe Noiret, Michele Placido e Vittorio Mezzoggiorno são os ‘tre fratelli’ do título original, mas é provável que a figura inesquecível do filme, para o espectador que ainda não o conhece, venha a ser o personagem do velho interpretado por Charles Vanel. O filme é sobre três irmãos que voltam à casa de sua infância. Seguiram caminhos diversos – um é juiz, outro, professor, e o terceiro, um trabalhador braçal. Vieram para enterrar a mãe e decidir quanto ao futuro do pai idoso. A casa é uma personagem tão viva quanto qualquer um deles.

O próprio Rosi estudou direito e gosta de dizer que talvez tivesse chegado a juiz, se o cinema não o tivesse desviado no meio do caminho. Ele desistiu do curso. Trocou-o pelo teatro e foi este que o aproximou de Luchino Visconti, de quem foi assistente em Belíssima. O cinema virou uma paixão e, em 1952, Rosi já codirigia (com Goffredo Alessandrini) o primeiro filme, Camicie Rosse. Ele fez mais um em regime de codireção (Kean, com Vittorio Gassman) e outros dois como experiências solas (A Provocação e Renúncia de Um Trapaceiro). Mas Rosi, como grande cineasta, surgiu em 1961, quando Salvatori Giuliano abriu um novo caminho.

No Brasil, o filme foi lançado como O Bandido Giuliano. Mais do que pela figura do biografado, o famoso fora da lei siciliano, foi o método de Rosi que deixou os críticos e o público siderados. Ele criou um novo estilo de cinema – documentado, não documentário. Prosseguiu nesta via com Le Mani Sulla Città, Os Bravos da Arena, O Caso Mattei e Lucky Luciano. Desviou-se dela e assinou Felizes para Sempre, de 1967, com Omar Sharif e Sophia Loren, seu único filme pelo qual os críticos não têm muito apreço. Aventurou-se pela ficção, e Cadáveres Ilustres e Três Irmãos são suas obras-primas não ‘documentadas’.

TRÊS IRMÃOS – Direção: Francesco Rosi (França-Itália/ 1981, 100 min.)

Distribução: Lume Filmes. Preço: R$ 39,90.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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