Los Angeles – John Travolta é louco por aviões. A paixão nasceu na infância, quando ele morava nas redondezas do aeroporto nova-iorquino de La Guardia e passava horas no quintal da casa admirando o balé das aeronaves nos céus. "Sou fascinado pela arte de voar, pelo design do avião, sua velocidade e a noção romântica de estar no ar e ver o planeta das alturas??, diz Travolta, com cachê na casa dos US$ 20 milhões – o que explica hobby tão dispendioso. Piloto comercial habilitado, é proprietário de cinco aviões. São três jets Gulfstream, um Learjet e um Boeing 707, que ocupa o gigantesco jardim de sua mansão na Flórida, onde só a pista de pouso e aterrissagem tem 3 mil metros.
"Já dei a volta ao mundo com a minha família??, conta o ator, casado com a atriz Kelly Preston, com quem tem dois filhos, Jett (em inglês, avião a jato), de 12 anos, e Ella Bleu, de 4. Acostumado a situações de emergência no comando de aviões, incluindo um pouso forçado no Washington National em 1993, depois de pane elétrica no jatinho Gulfstream, o astro de filmes de ação como A Reconquista (2000), A Outra Face (1997), A Última Ameaça (1996), entre outros, admite que adora sentir a adrenalina subir também nos sets de filmagem.
As habilidades físicas do ator, em forma para os seus 50 anos, podem ser conferidas em seu último longa-metragem, Brigada 49, que estreou esta semana nos EUA. Travolta interpreta o chefe de unidade de bombeiros em Baltimore nessa produção dirigida por Jay Russell – concebida para homenagear a profissão que ficou ainda mais popular nos EUA depois da tragédia de 11 de setembro. O papel não só exigiu que Travolta carregasse todos os dias um peso extra de 50 quilos, entre uniforme e equipamento, como enfrentasse incêndios de verdade, experimentando um calor de centenas de graus e a cegueira provocada pela fumaça. "Adoro ser obrigado a usar os meus instintos de sobrevivência??, diz
E não foi só nos sets de filmagem que Travolta se mostrou duro na queda. Como ninguém, soube contornar os altos e baixos em Hollywood ao longo de 30 anos de carreira. Conheceu o estrelato com hits como Os Embalos de Sábado à Noite (1977), que lhe valeu a primeira indicação para o Oscar de melhor ator, e Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978), mas amargou 16 anos de vacas magras na indústria, até reconquistar a popularidade com Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), a convite de Quentin Tarantino. Este filme não só recuperou o prestígio do ator aos olhos da indústria como lhe garantiu a segunda indicação para o prêmio da Academia. "Tarantino foi o meu anjo da guarda??, brinca. Leia, a seguir, os principais trechos de entrevista em Los Angeles.
Suas habilidades como piloto o deixam mais à vontade para rodar cenas de ação e perigo nos sets?
Talvez. Por saber como controlar o medo, encaro os riscos com naturalidade. Como um limite a ser superado. Para manter o espírito, ainda freqüento, pelo menos três vezes por ano, escolas de aviação. Ultimamente eles só me colocam em situações de emergência para ver como me saio.
O que mais o atrai na arte de pilotar aviões? A aventura ou a sensação de isolamento pelo fato de ser uma celebridade?
Os dois. Manobrar um avião exige um gosto pela aventura. Também adoro a sensação de ver o mundo sob outra perspectiva. A distância que os aviões percorrem é outro aspecto fascinante. Por ser piloto comercial, fazendo trechos com passageiros de vez em quando, também adoro a responsabilidade de levar pessoas em segurança aos seus destinos.
Sua mulher não se preocupa quando pilota aviões?
Não. Do contrário, eu poderia reclamar quando Kelly salta de pára-quedas. Somos uma família de doidos (risos). Ela se preocupa comigo por eu acreditar nas pessoas. Como já tentaram me enganar e tirar vantagem da minha confiança, ela é extremamente protetora.
Qual a coisa mais corajosa que já fez?
Não foram aventuras, mas sim a coragem ao aceitar a morte de pessoas queridas, sejam parentes, amigos ou namoradas. É a pior coisa do mundo. (Quando Travolta tinha 23 anos, perdeu a namorada Diana Hyland, que conheceu no set de O Rapaz na Bolha de Plástico, de 1976, vítima de câncer. Três anos depois, a mãe do ator, professora de arte dramática, morreu vítima da mesma doença).
Como compara ser uma celebridade hoje e nos anos 70, quando você despontou?
Para começar, havia muito menos celebridades. Hoje há tantas que eu mal consigo acompanhar quem é famoso e quem não é mais. Confesso não entender como certas pessoas ficam populares de repente, sem razão particular. Como é o caso dos participantes de programas de TV de reality show.
Ao longo da carreira, você conseguiu transitar convincentemente pelos heróis e vilões – enquanto muitos atores acabaram se especializando em um ou outro.
Sempre levei a sério a arte de representar, o que significa colocar a minha personalidade de lado. Ser verdadeiro ao encarnar outra pessoa é o que dá longevidade à carreira. Assim que os estúdios percebem que você consegue se esconder a trás dos personagens, abrem o leque de opções na sua vida profissional.
Você se considera uma inspiração para os jovens atores, principalmente por ter enfrentado altos e baixos?
Talvez. Fiz uma descoberta agradável no set de Brigada 49. Sabe que eu sou o único ator para o qual Joaquin Phoenix (com quem contracena no filme) pediu um autógrafo? Como Joaquin tinha apenas 9 anos, sua mãe, que trabalhava nos estúdios da NBC, pediu o autógrafo para o filho. Joaquin diz guardar até hoje aquele pedaço de papel, agora amarelado.