O festival veste-se nesta terça-feira, 7, de gala para acolher o diretor Stephen Daldry e o roteirista Richard Curtis, que vêm mostrar Trash – A Esperança Nasce do Lixo. O filme é uma adaptação do livro de Andy Mulligan, que Daldry e Curtis situaram no Brasil – no original, a história não é localizada. Mostra um trio de garotos do lixão que segue as pistas contidas numa mensagem e, vencendo a corrupção e a violência da política e dos políticos – de um político -, consegue dar a volta por cima. Ao localizar a trama no Brasil, o filme estabeleceu a parceria com a O2, de Fernando Meirelles. O recorte é social, na vertente de Cidade de Deus. Uma contradição em termos, porque o realismo dá o tom do relato, mesmo que, na essência, se trate de uma fantasia.
Terminou a fase competitiva da Première Brasil – no domingo, com Infância, de Domingos Oliveira, que já concorreu em Paulínia e Gramado. Uma crônica familiar com acentos rodrigueanos e Fernanda Montenegro excelente (como sempre) no papel da matriarca Dona Mocinha. Isso permite – o fim da Première Brasil – falar um pouco da participação estrangeira no Festival do Rio. Na lista que o repórter fez na semana passada sobre o Festival do Rio como vitrine do próximo Oscar ficou faltando pelo menos um (grande) filme – Whiplash, Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle.
Nos EUA, Whiplash tem causado comoção desde que venceu o Sundance Festival, em janeiro. A Sony, que distribui o filme, o tem na conta de um de seus fortes (o mais?) concorrentes para o prêmio da Academia. Conta a história de um garoto, baterista promissor, que tem como meta não repetir a experiência do pai, um escritor fracassado. Ele pratica até arrebentar as mãos. Encontra um instrutor brutalmente exigente, que literalmente vai arrancar seu sangue em busca da perfeição. O diretor Chazelle conta essa história com tal intensidade que a busca da superação vira metáfora… para tudo. Arte, vida, família, relação pai/filho, discípulo/mestre. Whiplash justifica o entusiasmo que vem provocando.
Dois filmes franceses com passagem pelo recente Festival de Veneza também estão dando o que falar. Três Corações, de Benoit Jacquot, começa nas pegadas de Antes do Amanhecer, de Richard Linklater. Benoit Polvoedere e Charlotte Gainsbourg se conhecem numa pequena cidade francesa, onde ambos acabam de perder o último trem para Paris. Passam a noite conversando e descobrem afinidades, mesmo que, a rigor, falem de tudo, menos deles mesmos. A dupla marca um encontro em Paris, ela não aparece – reminiscência de Tarde Demais para Esquecer, o clássico romântico de Leo McCarey nos anos 1950 – e ele tenta localizá-la. No processo, conhece outra mulher, Chiara Mastroianni. A mãe de Chiara, Catherine Deneuve, também está no elenco.
É curioso como o acaso pode interferir na concretização de um projeto. Benoit Jacquot escreveu Três Corações para Marion Cotillard e Léa Seydoux, mas seu filme terminou saindo com Charlotte Gainsbourg e Chiara Mastroianni. É um autor que ama as mulheres atormentadas/apaixonadas, mas desta vez o foco está no protagonista masculino, que vive a excitação e a dúvida do amor de uma noite. Só para sua informação – Positif amou e Cahiers du Cinéma deu a Jacquot sua pior cotação em décadas.
Em compensação, as publicações rivais uniram-se no coro de elogios a O Ciúme. A revista Transfuge, que abriga a melhor crítica de cinema da França na atualidade, não deixa por menos e chama La Jalousie de obra-prima. Philippe Garrel dirige de novo o filho, Louis. Ele tem uma filha com Anna Mougaglis, a Mademoiselle Chanel do filme de Jan Kounen. Ambos fazem teatro, ela morre de medo que ele a abandone. Entra em cena um arquiteto que propõe um trabalho a Anna, e agora é a vez de Louis sentir ciúme. Por narcisista que seja a fixação de Phillippe em Louis, o filme é fulgurante de beleza e (aparente) simplicidade. Um filmaço. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.