Há 20 anos, o autor Walcyr Carrasco tem um sítio em Cotia, no interior de São Paulo. Entre seus "vizinhos" está uma fazenda produtora de rosas que ele visita constantemente. A paixão pela flor veio logo à mente quando Walcyr imaginou a sinopse de Alma Gêmea, que a Globo estréia na segunda-feira, dia 20. O personagem central, Rafael, interpretado por Eduardo Moscovis, é um botânico especializado na criação de rosas, que enfeitarão diversas cenas da trama. "A rosa é símbolo do amor e símbolo da alma em praticamente todas as religiões. Não é à toa que sempre há uma rosa aos pés da Virgem Maria", argumenta Walcyr.
O amor imortal de Rafael e Luna, vivida por Liliana Castro, será simbolizado por uma rosa branca, especialmente criada por ele para homenagear a amada. Depois de sua morte, Luna reencarna na índia Serena, personagem de Priscila Fantin, e é buscando a flor que sempre aparece em suas visões que ela encontra Rafael. Para Walcyr, apesar de a reencarnação estar na trama central de Alma Gêmea, a grande mensagem da novela é bem mais abrangente. "Não quero defender esta ou aquela crença. Quero mostrar que as pessoas podem se transformar e renascer na própria vida que estão vivendo", filosofa, animado.
P – Que cuidados você acha necessários ao abordar um tema relacionado à crença do público, como a reencarnação?
R – O importante é escrever com honestidade. Se eu não escrever com o meu coração, não fica legal. Mas tive também o cuidado de colocar em cena uma personagem que discute o tema. A Agnes, da Elizabeth Savalla, é a mãe da Luna e acha uma injustiça ter perdido a filha, diz que Deus não existe porque, se existisse, não teria levado a filha dela. Acho importante para as pessoas que não acreditam na reencarnação, para um público protestante ferrenho, por exemplo, ter alguém lá que diz que não acredita.
P – Você não teme afastar este tipo de público que repudia a idéia da reencarnação?
R – Acho que quem não é místico vai encontrar algo de que goste na novela. Pode ficar só com a história de amor. Na verdade, há duas grandes mensagens da novela. Uma delas é que o amor pode acontecer entre pessoas diferentes, de formações completamente diversas. A Serena é parte de uma cultura que vê o mundo de outro jeito, mas é tão digna quanto a nossa. Quero deixar isso claro. A outra é mostrar que as pessoas podem se transformar. Quero dizer que elas podem transformar suas vidas e renascer na vida que estão vivendo.
P – Você fez faculdade de História. Acha que vem daí a preferência por tramas de época?
R – Sempre tive paixão por entender como as pessoas eram ou pensavam no passado. Leio romances históricos, gosto muito disso. E acho que as tramas de época têm uma importância grande hoje em dia, porque permitem a discussão de uma série de valores, com relação à família, aos relacionamentos, à amizade, ao que é certo ou errado. Minhas novelas falam essencialmente de valores. E hoje há muita gente perdida com relação aos valores mais essenciais da humanidade.