O dramaturgo franco uruguaio Sergio Blanco chega a São Paulo comemorando. A Ira de Narciso, seu texto, ganhou Prêmio Shell 2019 pela atuação de Gilberto Gawronski. Dessa vez, ele faz rápida passagem pela cidade com Tráfico, novo espetáculo que assina o texto e também a direção, em apenas duas sessões, nesta quarta, 10, e quinta, 11, no Sesc Vila Mariana.
Na primeira peça, que estreou no ano passado, o autor cria um labirinto tendo no centro da trama um palestrante em viagem, que no tempo livre busca se encontrar com rapazes da região. Curiosamente, no quarto em que está hospedado, ele encontra uma mancha vermelha e descobre que dorme numa antiga cena de crime. A fascinação da personagem pelo mito de Narciso o ofusca a ponto de não conseguir enxergar a realidade. Ao habitar esse homem confuso, Gawronski mantinha a plateia junto de si e da crescente paranoia do palestrante. “Penso que A Ira de Narciso é como uma espiral, de onde nada é verdade e tudo está na cabeça daquele homem”, conta Blanco.
Tráfico também é um solo, construído a partir da autoficção, conceito deslocado da literatura e aplicado à dramaturgia pelo autor. Em A Ira de Narciso, por exemplo, Gawronski interpretava o próprio Blanco. “A Ira usa bastante da teatralidade para contar a história. O mesmo não se dá em Tráfico.”
Nessa peça interpretada pelo ator colombiano Wilderman García Buitrago, a plateia vai conhecer a vida de um jovem garoto de programa. Ao lado de uma moto, em cena, ele fala de sua rotina profissional, seus encontros sexuais, entre eles com um dramaturgo – veja só! – que conheceu e que está escrevendo uma peça sobre Judas Iscariotes. A vida do rapaz vai mudar quando ele passa a aceitar o serviço de matar por encomenda. “Diferentemente do que diz em A Ira, Tráfico tem uma narração linear, na velocidade de uma moto. A história tem um destino e vai chegar lá”, explica o autor.
Se no caso da história do palestrante as ideias serviam como combustível volátil a ser consumido na próxima curva, em Tráfico, Blanco afirma que importa mais o flerte com algo real, como a violência. “É uma peça mais corporal e que se presta ao que há de mais concreto.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.