Trabalho cultural muda realidade de uma comunidade de Curitiba

Quando iniciou seu trabalho de doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em convênio com Universidade Bordeaux (França), a médica Sonia Davanso não imaginava que aquilo ganharia uma dimensão muito maior que apenas um projeto de estudo. O primeiro contato com a comunidade da Vila das Torres, uma região grudada ao centro de Curitiba que concentra cerca de 10 mil moradores, dos quais a grande maioria sobrevive da coleta e venda de material reciclável, mudou profundamente a visão do seu projeto, que era apenas o de discutir o crescimento populacional e sua relação com questões sócio-ambientais.

Foi inspirado na vida da Vila das Torres que Sonia desenvolveu um projeto junto com a comunidade, que além da tese, resultou em um livro e uma peça de teatro, que entra em cartaz neste mês no Guairinha.  Na primeira visita que fez ao local, a médica observou o grande número de adolescentes grávidas e resolveu investigar aquela realidade. "Eram gerações muito curtas. Mulheres com trinta anos já eram avós", lembra.

Enquanto na cidade de Curitiba o índice de mulheres com menos de 19 anos que eram mães atingia 20%, na vila isso saltava para 30%. Na mesma população, enquanto o índice de abortos e natimortos em Curitiba era de 5,8%, na vila atingia 15,6%. A médica lembra que a gravidez na adolescência, embora fosse um problema, para muitas
meninas era um gerador de ganhos e oportunidades, pois elas passavam a ser vistas e respeitadas como mulher.

Quando chegou na Vila das Torres, Sonia lembra que o tema da primeira reunião foi sobre a saúde da mulher, mas no final do encontro elas pediram aulas de alfabetização. Foi então que ela percebeu que poderia fazer mais pela comunidade. As aulas de teatro, que iniciou como atividade lúdica para liberar o estresse da tese, serviram como inspiração para o trabalho. "Eles queriam saber o que era tese, queriam aprender a escrever, saber sobre arte e cultura e mostrar para a sociedade o que era a vila, que lá tem muita gente boa", comenta Sônia. Além da prevenção, a médica trabalhou a união da comunidade, mas principalmente, a auto-estima e valorização das mulheres.

Vila no teatro

A também médica, Etel Frota aceitou o desafio escrever a peça de teatro, que foi dirigida pela arte-educadora, Fátima Ortiz, e tem músicas de Rosi Greca. Depois de montagem com atores contratados, a ‘Vila Paraíso’ passou a ser encenada por alunos do curso livre de teatro, Pé no Palco. A peça é um musical, que traz como ambientação cênica o lixo reciclado, e nas suas canções e diálogos, a poesia e realidade dos moradores da Vila das Torres.

Para a presidente do Clube de Mães União Vila das Torres, Irenilda Arruda o trabalho desenvolvido pela médica na comunidade foi muito gratificante e deixou resultados. "A peça foi um desses resultados, pois ela retrata os moradores da vila de forma verdadeira, e fez despertar nas pessoas uma visão diferente sobre quem mora aqui",
afirma. Além disso, completa, "sem contar o incentivo cultural, pois hoje muito mais gente está interessada em participar e se envolver em atividades de cultura e arte".

Segundo Fátima Ortiz desde o início os moradores sempre tiveram muitos envolvidos da peça, já que era a história deles que estava sendo construída. Mas o mais interessante, revela a diretora, é a reação do público. "O público mergulha no espetáculo e percebe que tem uma cidade limpa por causa dessas pessoas, que na grande maioria são os carrinheiros da cidade. É uma condição de vida que a gente depende, mas que passa desapercebia. Também despertam para o problema da gravidez na adolescência, que não acontece só na vila", pondera Fátima.

Serviço:

A peça ‘Vila Paraíso’ estará em cartaz no teatro Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha) nos dias 28, 29 e 30 de setembro e 1º de outubro. Os ingressos custam R$ 16 e R$ 8. Os moradores da Vila Torres terão preço especial.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo