Uma nova montagem da “Tosca”, de Puccini, deu a largada, na noite de terça-feira, para o 10.º Festival de Ópera do Theatro da Paz – e, de quebra, marcou também a sua reabertura, após oito meses de uma reforma de emergência. Inaugurado em 1878, o prédio é um dos principais símbolos da arquitetura amazônica do período do auge do comércio da borracha – e, restaurado há pouco menos de uma década, precisou ser fechado no começo deste ano por conta de uma infestação de cupins.

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“Tosca” subiu ao palco da capital paraense pela última vez em 1905, também após uma reforma no teatro. A escolha de “Tosca” como título de abertura está em consonância com a trajetória que o festival trilhou desde seu início. A comparação com o Festival Amazonas, realizado desde 1997, é inevitável, uma vez que os dois eventos marcaram, na última década, a descentralização da produção de ópera no País. Em Manaus, a escolha de repertório busca espaço para obras pouco ou nunca produzidas no Brasil, como a tetralogia “O Anel do Nibelungo”, de Wagner, ou a “Lady Macbeth”, de Shostakovich – para o ano que vem, já se fala em “Lulu”, de Alban Berg. Já em Belém, a aposta, em geral, é em títulos consagrados do repertório, com o objetivo de resgatar a ligação da cidade e seu público com a ópera.

Nos dois casos, porém, há uma preocupação comum de fazer dos festivais manifestações locais, com uma participação maior de profissionais da região, que trabalham lado a lado com produtores e artistas vindos de outros lugares do País, em especial Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta décima edição do Festival do Theatro da Paz, por exemplo, 90% dos profissionais envolvidos são do Pará, cuja tradição musical tem como principal expoente o conservatório centenário, criado por Carlos Gomes em 1896.

Musicalmente, a “Tosca” surpreendeu pelo desempenho, um dos melhores de sua história, da Sinfônica do Theatro da Paz, reforçada por músicos convidados, da qual o maestro Carlos Moreno, diretor da Sinfônica de Santo André, soube tirar, em especial nos dois primeiros atos, coloridos ricos e expressivos. Tanto o tenor Eric Herrero, como Cavaradossi, quanto a soprano Silviane Bellato, como Tosca, passam por um momento de transição vocal em direção a papéis mais pesados mas, muito musicais, crescem ao longo do espetáculo e criam interpretações convincentes de seus personagens – entre os principais momentos da récita da noite de terça-feira estiveram a ária “Vissi D’Arte” e o dueto do terceiro ato. Como Scarpia, o barítono Rodrigo Esteves trabalha bem as possibilidades de seu timbre claro e foi a principal presença em cena, ao lado do Sacristão do baixo barítono Saulo Javan.

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A montagem do diretor Mauro Wrona é bem realizada em sua proposta tradicional, que recria os ambientes originais da história, na Roma do século 19, com cenários realistas que criam boa moldura para a ação. Profissional experiente, Wrona trabalha de modo eficiente a caracterização das personagens e a movimentação cênica, em especial em momentos mais complicados, como a entrada do coro no fim do primeiro ato, resultando em um todo orgânico e de narrativa fluente.

O Festival do Theatro da Paz vai até o dia 3 de dezembro e, após “Tosca”, tem na programação recitais e concertos com trechos de ópera e uma versão encenada da cantata “Carmina Burana”, de Carl Orff. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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