Torpedo pós-pós-punk

Se existe um nome que carrega boa parcela de culpa pelo fato de Nova York estar bombando o rock mundial de revisionismos do pós-punk, ele possui sete letras. Não, não é o Strokes. O nome é Rapture.

Há influências bem diretas, como Cure, PiL e Gang Of Four. Procurando um pouco mais, você também encontra com facilidade os dois maiores temporões do punk novaiorquino, Talking Heads e Blondie (Rapture, aliás, é uma faixa do álbum Autoamerican, de 1980).

Olio abre o recém-lançado (aqui e lá fora) álbum Echoes (Strummer/Universal) levando direto o Rapture às pistas de dança. Bumbão reto, teclados saturados, loops bem graves. House? Sim e não. Quando entra o berro do vocalista/guitarrista Luke Jenner, a impressão que se tem é a da mais completa atualização do Cure.

Open Up Your Heart dá uma suavizada no panorama. Jenner engata um falsete enquanto ecos prolongam as notas solitárias do piano de Gabriel Andruzzi e a cozinha de Matt Safer e Vito Roccoforte (fundador do grupo, ao lado do guitarrista) passeiam por um emocionante groove soul. De cortar quer dizer, escancarar o coração.

Terminada a pausa confessional, voltam os grooves. I Need Your Love parte do ponto de onde Olio parou, só que agora acelerando o BPM. ?I need your love? suplica Jenner, acompanhado por um sutil vibrafone que dobra a melodia. Depois, sua guitarra emenda um discreto riff, enquanto teclados murmurantes e um sibilante chimbau disco no contratempo continuam fazendo a festa.

Em seguida, sob o comando de Safer, volta ao comando a veia pós-punk. Boa dose de tosqueira e os trechos com Roccoforte mandando ver batida marcial nos tambores fazem lembrar e muito os bons tempos do Joy Division sem os vocais soturnos de Ian Curtis. O final explosivo, cheio de gritos, é surpreendente.

E a tosqueira permanece ativa em House Of Jealous Lovers, megahit do álbum. Enquanto a batida disco é capaz de enloquecer os pés e quadris em qualquer canto do planeta, Luke grita para colocar abaixo a ?casa dos amantes ciumentos?.

A faixa-título, nos mesmos moldes da anterior, não deixa a peteca cair e garante uma bela dobradinha para qualquer DJ mais esperto. Killing, por sua vez, desacelera o frenesi ao flertar com o tecnopop. Batida mais fria, mecânica, kraftwerkiana. Os vocais, porém, continuam no mesmo nível de loucura expelida aos gritos. O dominante Cure volta a aparecer em Sister Savior, mais melódica e com timbres que remetem diretamente à eterna dobradinha The Walk e Let?s Go To Bed.

Love Is All vira a chavinha para o lado do rock. É setentona, com sangramento contínuo de uma veia southern rock (leia-se Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers), direito a cowbell marcando a percussão e falsetes descontrolados de Jenner se perdendo em um turbilhão de efeitos de ecos e delays no final.

Infatuation encerra o disco com um verdadeiro chill-out. Leve, batida soturna, violões discretos e Jenner repetindo aos sussurros (e falsetes) ?You don?t know by now/ To take me down?. Tudo embarca em um crescendo bem lento, até o arranjo explodir enquanto o vocalista martela a palavra que dá nome à faixa (e cuja tradução mais correta para o português é ?perder-se de amores?). Ao soar da última nota, cai a ficha: nunca um nome de uma banda caiu tão bem em um encerramento de disco: rapture significa êxtase, embevecimento.

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