São Paulo – Mulheres são belas e distintas. Os homens estão na miséria, mendigando o amor delas. Essa é a imagem perpetrada por Tom Zé, para ilustrar o enredo de seu novo CD, o excêntrico e inventivo Estudando o pagode (Trama), que contém a opereta Segregamulher e Amor. Trajando farrapos e portando pedaços de papelão e uma bandeirola com as cores do arco-íris, Tom e seus músicos compareceram vestidos de mendigos, para uma entrevista coletiva na segunda-feira.

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O CD, com 16 faixas, é um manifesto resultante de quatro anos de estudo do compositor e de sua mulher, Neusa, sobre a questão da arcaica dominação masculina. Outro estímulo relevante veio de uma pesquisa do Projeto Sexualidade da USP, realizada no ano passado, revelando que quase 60% das mulheres não atingem o orgasmo. ?E os rapazes não estão nem aí para elas?, frisa Tom Zé.

No rol dos rejeitados, ele se inclui como tal: ?Nasci mulher. Eu era o fraco, o que não tinha direito a opinião, o que apanhava na escola?, compara. Diante delas, se reduz. É lendária a história de quando tentou em vão cantar para a primeira namorada, na adolescência, na cidade natal Irará, Bahia. No CD Jogos de armar (2002) na faixa Medo de mulher, zombou: Tom Zé ainda chora quando vê moça nua. ?O desnudamento diante de uma criatura humana feminina diante de você é realmente uma aproximação do divino?, explicita o compositor. ?Não há nada de errado com a mulher. A estratégia dos homens é que está errada. A gente precisa respeitar mais essa criatura, levá-la mais em consideração, deixar de ter medo dela, para que um dia ela volte a confiar em nós.?

Tom Zé gravou o CD auxiliado pelos vocais de muitas delas: Suzana Salles, Zélia Duncan, Luciana Mello, Patrícia Marx. Edson Cordeiro fez com ele um dueto gay. Paralelamente ao conflito dos sexos, trava-se o da evolução musical. Há diversas citações de outras canções, do próprio autor e de outros nas faixas do CD. O título e a capa, obviamente, remetem a Estudando o samba, de 1976, disco que ficou esquecido e, como foi exaustivamente registrado, só ?descoberto? depois que o músico americano David Byrne o descobriu num sebo. ?O samba tem uma dignidade instituída. O pagode já nasceu miserável. Veio da escola do samba, mas foi diluído no enfraquecimento de suas fibras e se tornou uma coisa antipática?, diferencia.

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Aos 68 anos, como se estivesse em 68, nas primeiras floradas do tropicalismo, Tom Zé não pára de reinventar. Talvez por isso, com seu estilo provocador, irreverente, venha conquistando cada vez mais jovens desde que foi ?redescoberto?. Agora ele quer ampliar esse público. Para tanto recorreu a seus vizinhos Pedro Luiz Gonzaga, de 16 anos, e Fernanda Dell?Uomo, de 17, que se tornaram seus assessores para assuntos de juventude. Fez o disco Estudando o pagode equilibrando-se entre o que sua mulher Neusa considerava ?mais digno? de sua importância e o que os adolescentes achavam que podiam tocar nas festinhas deles. Entre os defeitos apontados pela dupla estavam ritmo lento e palavras ?não muito entendíveis?, como diz Pedro. Pela linguagem teen, ?mulher? virou ?garota?na letra de Quero pensar.