A Tom Maior entra na noite desta sexta-feira (20) no Sambódromo do Anhembi com uma dupla missão: mostrar as influências angolanas no Brasil e ao mesmo tempo homenagear o cantor carioca Martinho da Vila. Parece estranho, mas não é. Martinho da Vila ganhou na década de 70 o título de embaixador cultural de Angola no Brasil e foi uma das inspirações para a criação do nome da escola. “É um enredo que vai homenagear Angola, um país com o qual o Brasil tem uma ‘dívida de sangue’, pois aqui ficaram muitas influências que nem existem mais lá”, afirma o carnavalesco da escola, Marco Aurélio Ruffin. “E Martinho da Vila proporcionou este intercâmbio cultural entre os dois países e ainda inspirou o nome da escola.”
Com o samba-enredo “Uma Nova Angola se Abre para o Mundo! Em Nome da Paz, Martinho da Vila Canta a Liberdade”, a Tom Maior será a quarta agremiação a entrar na avenida, por volta das 2 horas, quando começará a contar os quase 30 anos de guerra civil em Angola, até a libertação de Portugal, em 1975. “Vamos resgatar uma identidade que não existe mais em Angola, que foi aniquilada pela dominação portuguesa”, diz o carnavalesco. Depois do carro abre-alas de mais de 40 metros de comprimento, onde será encenada a guerra civil, surgirá no Anhembi uma Angola “reconstruída”, diz Ruffin. “As influências deixadas no Brasil permitiram essa reconstrução.”
O ritmo da bateria virá embalado pela batida afro, que, para Ruffin, será um “tempero novo” no carnaval do Brasil. O carnavalesco destaca ainda o trabalho da comissão de frente. “Os integrantes da comunidade da Tom Maior foram realmente transformados em atores”, afirma. A escola da zona oeste da capital paulista terá 25 alas, cinco carros alegóricos e a participação de 2.800 componentes.
Martinho da Vila, que será o destaque de um dos carros, terá a companhias dos 10 principais artistas de Angola. “Martinho tem uma ligação muito forte com a escola. O nome da escola foi inspirado no título de uma música dele”, conta. Além do cantor, a escola terá ainda a presença da modelo Adriana Soares “Bombom” como madrinha da bateria, da modelo e apresentadora Ana Hickman, do cantor e vice-prefeito de São Bernardo do Campo Frank Aguiar, da ‘Paniquete’ Tânia Oliveira, e da apresentadora Faa Morena. “Temos todos os ingredientes para fazer um bom desfile. Agora só depende da alegria da comunidade”, diz o carnavalesco. Confira a seguir a letra do samba-enredo da Tom Maior, feito pelos compositores Maradona, Claudinei, Amós, Ferracini, Tinga e Ricardo:
“Uma Nova Angola se Abre para o Mundo! Em Nome da Paz, Martinho da Vila Canta a Liberdade”
É nova Angola com mais amor
Seus ideais, de independência e libertação
Chega de guerra e opressão
Buscando o caminho da paz
Um povo que tanto sofreu… renasceu
E brilha o sol da nova era
Reconstruindo a sua história
Rainha Nzinga guerreira
Com seu exemplo, rompeu fronteiras
Entre correntes e lamentos
A Negritude atravessou o mar
Fazendo desse chão seu gueto
O Brasil é negro, e hoje vem sambar
Oi deixa a gira girar… Vamos girar
A proteção “Zambi” nos dá
Vem na ginga d’Angola
E deixa o corpo balançar
Mais tarde o filho volta,
ao lugar que o concebeu
Levando a sabedoria que aprendeu
Axé para quem estendeu a mão
Firmando aliança com nosso irmão
Reconhecendo essa nação
Angola tão cheia de luz
Conquistada por um sonhador
Terra de seus ancestrais
Exalta seu embaixador
É Martinho, é José, Partideiro, Escritor
É da Vila Isabel, que fez Kizomba lá no bairro de Noel
Bate tambor batuqueiro
O Canto do negro ecoou
É tempo de liberdade, e felicidade
Em Tom Maior é negra a cor!