Tom Zé: jogos de amar e consciência crítica. continua após a publicidade |
Companheiro Bush e Urgente pela paz são duas novidades no repertório do show que Tom Zé realiza amanhã em Curitiba, numa visita que compreende também palestra com o tema Felicidade, no 5.º Encontro de Estudantes de Design. As novas canções integram um CD que a Trama lança antes da Páscoa.
“O diabo sempre faz mais sucesso”, ponderou ontem o compositor ao lembrar que a letra de Urgente pela paz está melhor elaborada, porém a mais comentada é a Companheiro Bush (aqui publicada, por sinal, no mês passado). E adiantou que essas duas músicas estarão apenas no single que a Trama lança com o selo Imprensa Cantada, do qual ele é até hoje o único integrante.
Para o futuro CD, com lançamento previsto para setembro/outubro, serão outras as composições, mas sobre isso nada adianta: “Não se trata de segredo, é que ainda não sei no que vai dar. Não sou boêmio, mas tenho acordado à noite ou de madrugada e anotado alguma coisa. sei que persigo um objetivo”. E qual é ele? “Mulher que fala muito perde o seu amor e o artista quando dá para falar não ajuda, cria expectativa desnecessária”, argumenta para se reservar o direito de não responder.
A eloqüência surge, entretanto, quando se trata do noticiário. “A palavra guerra, na hierarquia dos crimes lesa-humanidade, tem conotação de mais respeito. O que os Estados Unidos e a Inglaterra estão fazendo contra o Iraque não é guerra. É um assalto a mão armada no submercado (no sentido de supermercado, subterrâneo). Estão assaltando poço de petróleo! E usam a palavra guerra por puro charme”, desabafa, já que não pode fazer o mais famoso dos boicotes: “Nem de criança não tomo Coca-Cola”.
Tom Zé não se surpreende com o conflito no Oriente Médio: “No meu disco de 1996, Com defeito de fabricação, eu já previa essa guerra de hoje, cantando Quem é que está botando dinamite na cabeça do século e ONU vende-se armas”.
Sua consciência crítica é um dos motivos pelos quais o Teatro da Reitoria está com superlotação para sua palestra amanhã. “Temos 800 inscritos e a capacidade da platéia é de 700 lugares”, avisa Rafael Forcadell, aluno da UFPR e um dos organizadores do Purungo – encontro de universitários das cinco faculdades de design de Curitiba.
Rafael conta que Tom Zé foi lembrado para ser palestante do evento porque atrai mesmo bom público, já que “seu nome é indiscutível na história da música brasileira e por sua experiência de vida, pela identidade nacional (nossa busca no design) e porque sabe discorrer sobre o tema do Purungo deste ano, a felicidade”.
Para Tom Zé, o encontro com os jovens é sua razão máxima de vir a Curitiba: “Minha vida é um burbulhar para a geração jovem”. Incansável, com o coração já em ordem, Tom faz a palestra às 17h30, à noite canta no Vasquinho. Já no sábado faz show em São Paulo, domingo canta no Bem Brasil e na segunda-feira dá entrevista para Jô Soares, quando estará cantando Urgente pela paz.
A volta depois de dois anos
O Vasquinho/Calamengau já sediou show de Tom Zé, foi há dois anos. Ele agora retorna, trazendo no repertório principal as músicas do CD Jogos de Armar, o primeiro produzido integralmente no Brasil em mais de uma década e que o maestro Júlio Medaglia chama de “uma enxurrada de idéias”.
Tom Zé divide o palco com seus músicos fiéis: Léllis na bateria, o baixista Gilberto Assis, o parceiro na música Santo Agostinho, Serginho Caetanoo, Jarbas Maris e Cristina Carneiro, “que também assina a direção musical e que é loura mas toca como uma negra”.
O sistema sonoro de Tom Zé passeia também por engenhocas como enceroscópio (agrupamento de enceradeiras, liquidificadores, batedeira), buzinório e hertzé (uma espécie de sample inventado antes do sample) e instrumentos de trabalho. Uma estética de trabalho urbano altamente sofisticada.
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Show amanhã, às 23h, no Calamengau (Sociedade Vasco da Gama), Rua Dr. Roberto Barrozo, 1190, Mercês, tel. (41) 338-7766. Ingressos no Calamengau, Café do Teatro e Armazém do CD, antecipados, 13 reais. No dia a 15 reais.