Todo dia é (não) dia de índio

Acontece hoje, primeiro dia de novembro, o lançamento de Tribalistas, trabalho que une Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown em CD, DVD e VHS, numa realização do selo Phonomotor com distribuição mundial pela EMI. O lançamento na verdade é a ponta de uma pirâmide de um encontro que dura dez anos.

As agendas dos três se acomodaram em abril deste ano, quando então puderam gravar treze canções inéditas, com músicos Dadi Carvalho e Cézar Mendes, contando com participação especial da cantora Margareth Menezes em uma canção em que também é parceira. Quando tudo começou foi um sigilo total.

O sigilo do projeto era tanto que as imagens para VHS e DVD foram gravadas quase que de forma doméstica devido a falta de aparato técnico. Guilherme Ramalho, da produtora Trattoria di Frame, compensou “os espartanos recursos das filmagens” com uma finalização consumada em três meses de trabalho contra 15 dias de gravações.

A base do projeto foram as treze canções compostas em 2001, na cidade de Salvador, quando Marisa Monte foi gravar uma participação no álbum de Arnaldo Antunes com produção de Brown. “O fato de existir um conjunto entre os tribalistas, que é a afinação total e química, traz para o pensamento da equipe a contribuição de um com outro… termina fazendo um novo artífice que são os três e os três não fariam isso separadamente”, diz Brown, ainda quase comparando o trio com uma santíssima trindade: “Isso é a soma dos três, que é um… que é o tribalista.”

A entrevista foi concedida pelos três – ainda sob sigilo – para Nelson Motta, agora distribuída. Nela, Arnaldo Antunes lembra que “a gente nunca tinha se reunido para compor um volume tão grande de canções em poucos dias (13, no total), como aconteceu em Salvador”, mas repara que há dez anos eles vêm se encontrando, “compondo coisas, ou eu e o Carlinhos, ou eu e Marisa, ou Carlinhos e Marisa ou nós três juntos”.

Além de compor e produzir, o trio teve outra preocupação: pensar em um nome para batizar o projeto todo, partindo da idéia do número de seus componentes. A faixa-título, assim, nasceu depois do batismo Tribalista. “Primeiro – revela Marisa Monte – a gente pensou um nome que vinha de três, de tri, de tribo”. Por coincidência, recorda Arnaldo Antunes, que havia composto Volte para Seu Lar, música que Marisa gravou e diz “Aqui nessa tribo ninguém quer a sua catequização”. Este letra, repassa o compositor, “é uma outra forma de dizer pé em Deus e fé na taba”.

Tribalista é um passeio musical intimista (foi gravado na casa de Marisa) e com incrível variação de gênero, indo da bossa nova ao soul, da seresta ao rock e da valsa ao samba. E outra espécie de santíssima trindade é evocada aí, pois o disco tem até canção natalina e sobre ela Brown observa: “Eu vejo a gente explicitando a família como ela é, numa forma natural. Não exatamente a família do pai, filho… E ao mesmo tempo, Pai, Filho e Espírito Santo sim, porque tem essa balança afinada, esse equilíbrio”.

Ainda que compostas em Salvador, no ano passado, há especialmente uma música “antiga”: Lá de Longe. Conta Marisa que ela começou a compor no Nepal, em 93. Depois, Arnaldo ajudou a escrever a letra.

Mas o encontro dos três para a lide de compor também foi em clima intimista. Recorda, poeticamente, Carlinhos Brown: “Chuva nas piaçabas com beira-mar. A presença da natureza foi uma coisa muito gentil também a nosso favor. Acho que esse trio tem uma coisa de percepção que está nos três, há nele vários símbolos, como o triângulo Rio, São Paulo, Bahia”.

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