Depois de se arrastar ao longo dos seis meses por um deserto de audiência, Bang Bang chega aos últimos capítulos. Com a frustrada pretensão de entrar para o ranking de sucessos no horário, por ser uma trama inspirada na inusitada temática de faroeste, a novela finda como uma das piores e mais turbulentas produções já realizadas pela Globo.
O folhetim foi marcado, principalmente, pela entrada e saída de autores e diretores, desde Mário Prata até as desesperadas tentativas da equipe de colaboradores de tornar a história um pouco mais tolerável. Nesse meio tempo, a tarefa de conduzir a novela passou de mão em mão. Com a súbita saída de Mário Prata, que apesar de ter alegado problemas de saúde mostrou fortes evidências de insatisfação, a trama já foi conduzida pela então colaboradora Márcia Prates, Antônio Prata, filho do autor, até que Carlos Lombardi assumiu a novela. Em meio ao tiroteio, contudo, estava um elenco exausto pelo excesso de horas no estúdio, ansioso pela falta de frente nos capítulos, insatisfeito com o surgimento e desaparecimento de personagens e, definitivamente, desiludido com relação ao sucesso das novas investidas.
A aposta da emissora numa temática tão incomum foi um reflexo do mau desempenho recente no horário. Tudo começou com a chatíssima Começar de Novo, que derrubou a audiência para abaixo de 30 pontos. Depois veio A Lua Me Disse, que recuperou um pouco o ibope do horário. Mas aí veio a catastrófica Bang Bang. Não foi à toa que a Record elegeu o horário como ringue e mandou sua novela Prova de Amor à luta. A trama de texto clássico e simples manteve uma audiência em torno dos 22 pontos, com 40% de share. Além da inovação temática, no entanto, a novela da Globo cultivou outras mazelas. A principal delas foi o fraco desempenho dos novatos coisa que nem os talentosos Ney Latorraca, Mauro Mendonça, Joana Fomm, Giulia Gam e Marisa Orth conseguiram compensar.
A começar pela protagonista Fernanda Lima, que deu vida a Diana Bullock. A bela, definitivamente, provou ser melhor como imagem impressa. Seu romance com o caubói Ben Silver, do protagonista Bruno Garcia, também não convenceu. As características dos personagens mudaram tanto quanto os elementos da história. O enredo do casal, inclusive, passou por tantas alterações e adaptações que chegou a perder a própria identidade. Não bastasse isso, a participação dos "inusitados" Sidney Magal, Paulo Miklos e Luiz Melodia só serviram para criar saudosismo.
Outra dificuldade em emplacar Bang Bang foi achar uma fórmula que se identificasse com o perfil do público que geralmente acompanha as novelas das sete, em sua maioria mulheres. A mistura de elementos no empoeirado ambiente da trama, desde artes marciais, capa-e-espada, cientistas malucos, cabarés, bandidos com pinta de mocinhos e vice-versa, além de não deixar bem-definidas as características da novela, definitivamente não caiu no gosto feminino. As acentuadas variações entre o humor e sarcasmo e os insossos romances cheios de altos e baixos também derrubaram quaisquer possibilidades de simpatia. O resultado foi a saída de alguns personagens para dar mais agilidade à história, como foi o caso do triângulo amoroso vivido pelos personagens Peter Jonhson, de André Bankoff, Doroty, interpretado por Cris Bonna e Dong Dong, de Jairo Matos, além do encurtamento da trama em um mês.
Para dar mais coerência aos desfechos das tramas, Lombardi resolveu apostar numa velha fórmula: um humor mais popular e simplório. Diferentemente do texto de Mário Prata, onde as piadas eram carregadas de ironias e discursos que inspiravam reflexões, dificilmente compreendidos pelo público mais jovem, o autor decidiu partir para o cômico escrachado. De fato, a novela começou uma e terminou outra. Os bandidos vingativos viraram "engraçadinhos" cheios de perdão, as meninas do cabaré hoje sonham em se casar de branco, e os pistoleiros estão plantando árvores.