Carolina Ferraz ainda estava na minissérie O Quinto dos Infernos quando Carlos Lombardi lhe passou a “cantada”. Ele disse que havia escrito o papel de uma mulher feia, machona e desengonçada especialmente para ela em sua próxima novela. Como assumir tipos inusitados é o sonho de todo ator que se preza, ela logo aceitou. E mais: só topou entrar em Sabor da Paixão se pudesse emendar um trabalho no outro. Mas a causa era nobre. Afinal, a Rubi de Kubanacan é o extremo oposto das dondocas que marcaram a carreira da atriz na tevê. “A gente se repete muito porque, se você funciona fazendo um tipo, acaba só fazendo aquele tipo. Quando surge uma chance dessas, não dá para fugir”, justifica.
Para corresponder às expectativas do autor, Carolina caprichou na composição. Adotou um tom de voz mais grave, com que se arrisca até a ficar com calo nas cordas vocais. Assumiu uma postura desengonçada, que só agrava a dor na cervical, herança do acidente de carro sofrido no início do ano. E emprestou à personagem uma peça do próprio figurino: os óculos, de sete graus de miopia. O visual desglamourizado, porém, causou estranheza no público acostumado a vê-la sempre linda e exuberante no vídeo. “A mulherada na rua quer que eu fique linda logo. Mas confesso que não estou com a menor pressa. Por mim, a Rubi continua esse meninão até o final da novela…”, avisa.
Mas não é só o estilo “patinho feio” que gera alvoroço. O público feminino também se mostra realizado quando Rubi distribui socos e pontapés na novela das sete. “As cenas de luta são hilárias. Eu, o Vlad e o Pasquim parecemos os três mosqueteiros. Ou os três patetas…”, corrige. Quanto ao desfecho da novela, Carolina não sabe o que vem pela frente.
P – Você acredita que a Rubi Calderon pode inaugurar uma nova fase em sua carreira, onde personagens naturalistas vão ceder espaço a outros, de maior composição?
R – Olha, honestamente, espero que sim. Não tenho nada contra fazer papéis naturalistas, mas a Rubi é o tipo de personagem que eu gostaria de fazer há muito tempo na televisão e por um motivo bem simples: sei que nunca me imaginaram assim. Pessoalmente, faço o tipo “mulherzinha”, mas também tenho um lado “moleca” bem forte e estou feliz por apresentá-lo ao público. Acontece que, na televisão, posso até dizer “não” para uma coisa ou outra, mas não sou eu que escolho o que faço e o que deixo de fazer. Quando surge uma oportunidade dessas, o ator não pode desperdiçá-la. E foi isso que eu fiz.
P – O público nas ruas não tem reclamado do seu visual desglamourizado na novela?
R – Acho que ninguém me achou feia ainda. Também se acharam, não me disseram. Na verdade, o pessoal anda meio surpreso com a Rubi. Ninguém imaginava que eu pudesse fazer uma personagem dessas. Acho até um elogio ser chamada de sofisticada, mas sou mais bonachona do que as pessoas imaginam. Em casa, por exemplo, só ando de chinelos e blusão. No final das contas, tenho muito em comum com a Rubi. Também não sou tão vaidosa assim. Não sou de usar maquiagem, nem de ficar produzindo cabelo. Apenas limpo a pele pela
P – Esta é a segunda produção do Carlos Lombardi de que você participa. Gostaria de ingressar na “companhia lombardiana de comédia”?
R – Nossa, parece até que eu trabalho com essa turma há anos. O pessoal é nota dez! Todo mundo é muito divertido. O ritmo de gravação é puxado? É. É difícil gravar novela? É. A gente grava uma média de um longa-metragem por semana, são quase 30 cenas por dia. Mas, graças a Deus, nunca peguei clima ruim. Deve ser muito desagradável quando acontece.
P – É verdade que você só se tornou atriz por chantagem do então diretor de teledramaturgia da Manchete, Jayme Monjardim?
R – É verdade, sim. Na época, eu era apresentadora do Programa de Domingo e achava que atores fossem todos uns loucos. O Jayme falou que eu faria apenas uma participação na primeira fase de Pantanal. Disse que, se eu não gostasse da experiência, nunca mais me encheria o saco. Diante da minha relutância, ele falou que, se eu não fizesse, me mandaria embora da Manchete. Diante disso, não tive alternativa… Mas gostei da experiência. Pena que nunca mais voltei a trabalhar com ele. Mas, volta e meia, a gente sempre se esbarra. Um dia desses, a gente trabalha de novo…
P – Você já se arrependeu, algum dia, de ter se tornado atriz?
R – Não. Gostei muito de todas as personagens que fiz. Posso parecer um tanto óbvia, mas a minha personagem favorita é sempre a que estou fazendo no momento. Nunca fiz uma do tipo: “Ai, meu Deus, não suporto mais essa mulher…”. Espero, sinceramente, que continue assim.