O ano de 2008 é marcante para a música mundial. Algumas datas históricas completam ?aniversário?, e criam a possibilidade de uma revisão de conceitos – ou mesmo de uma simples avaliação do que passou. Para quem viveu os anos 80s, este ano marca o jubileu de prata de um dos mais importantes álbuns da música pop. Thriller, de Michael Jackson, é um dos poucos pós-década de 60 que podem ser comparados aos grandes discos de Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones. Inclusive superando vários destes.
Fruto de uma união perfeita entre produtor, cantor (e, no caso, também compositor) e músicos, Thriller abalou todas as estruturas da música pop. O que escutamos hoje – a tendência cada vez mais forte da música negra, a mistura entre as batidas fortes de percussão e riffs de guitarra, as letras agressivas e a imposição física do intérprete – vem do disco de Michael, que viveu naquele 1983 sua glória e sua perdição.
Foi a glória porque nunca um artista atingiu tamanho grau de excelência em um álbum de música pop (Beatles, Stones e Beach Boys também, mas eles eram muitos…). Depois do elogiado Off The Wall, que representou a sua transição para o ?mundo adulto?, Michael ganhou maior liberdade para preparar o álbum seguinte. Demorou três anos para ficar pronto, mas Thriller mostrou a maturidade de Michael Jackson, que se soltara definitivamente do ranço ?meloso? do Jackson Five e virara um cantor praticamente perfeito.
Não só cantor, mas também compositor. Canções como Billie Jean, Beat It, Wanna Be Startin? Something e The Girl Is Mine são clássicos da música pop, e foram fundamentais para a fixação do álbum como um dos mais importantes da história. Particularmente Billie Jean, que trata de um tema árido (subliminarmente fala de sexo, drogas e violência) com elegância, o que já não acontece hoje. Muito do caráter mítico da canção foi criado por causa do moonwalk, aquela dança de trás para frente que ele fazia ao cantá-la. A canção foi regravada por outros 64 artistas – entre eles, Caetano Veloso, em uma grande versão ao vivo, durante o programa Chico & Caetano, da TV Globo, em 1986.
Ele também soube escolher músicas. Human Nature, a grande balada do disco, não é dele. Assim como a faixa-título – ambas são de Rod Temperton. As duas canções, completamente diferentes, ampliaram o caminho de Thriller, levando-o aos públicos do extremo (naquela época, os jovens rebeldes e os maiores de 40 anos). E, claro, o incrível clipe de Thriller, com mais de dez minutos, que foi de um impacto brutal na ainda comedida indústria musical. E para a juventude da época – quem tem entre 30 e 40 anos, e viu o clipe na TV, lembra bem disso.
Para amparar Michael nos estúdios, estava um grupo de centenas de músicos, entre eles o brasileiro Paulinho da Costa (que deu esta semana uma interessante entrevista à Folha de S.Paulo sobre o álbum), e o produtor Quincy Jones. O ?verniz? pop de Jackson foi dado por Jones, que se difere dos produtores de hoje por ser músico (e arranjador e maestro). Ele soube extrair – no bom sentido – do cantor tudo o que ele poderia apresentar naquele momento, auge da juventude e da impetuosidade. Quincy Jones é considerado por muitos críticos um co-autor de Thriller. Que vendeu mais de quarenta milhões de cópias. O álbum transformou Michael Jackson em um gênio pop, alguém que ditaria o ritmo da indústria e da música nos anos seguintes.
E isto foi a sua perdição. Seu temperamento conflituoso transformou-o em um pastiche de artista. Nem mesmo o sangue negro, tão importante na construção e de sua personalidade artística, Michael Jackson soube valorizar. Pensar em um novo Thriller é impossível. Pensar em um novo Michael, também.
