‘The Knick’ subverte o drama médico

Era o primeiro episódio da temporada de estreia de The Knick, empreitada televisiva responsável por tirar o diretor vencedor do Oscar Steven Soderbergh da aposentadoria. Em uma hora de episódio, a série se mostrava como um drama médico de época. Um encontro maluco entre Downtown Abbey e House – principalmente pela forma pouco convencional do médico John W. Thackery, interpretado por Clive Owen. E, então, numa crise de abstinência de cocaína, Thack, como o personagem de Owen é chamado, pede ajuda para a enfermeira Lucy (vivida por Eve Hewson, atriz filha do cantor Bono, do U2). Ele não consegue encontrar uma veia para injetar a droga e pede para que ela o faça, inserindo a agulha no pênis dele.

E aí que Soderbergh e seu The Knick pegam todos os conceitos preestabelecidos pelos telespectadores, as comparações com outros dramas médicos ou de época, amassam como uma bola de papel e os jogam no lixo.

A partir desta sexta-feira, 16, às 23h nos canais Max e Cinemax, a série volta para uma segunda temporada cuja promessa é ir além do que já foi visto no primeiro ano. “O Steven (Soderbergh) diz que essa nova temporada é uma espécie de ‘The Knick 2.0’. Tudo vai muito mais além”, explicou Eve Hewson, a jovem filha do rockstar que rouba a cena da série e vê sua personagem crescer em importância, desde a jovem inocente que injeta cocaína no órgão sexual do chefe até se tornar sua amante devota e apaixonada. “Não achei que ficaria mais insano, mas fica”, ela comenta, em uma mesa rodeada de jornalistas da América Latina, logo após a exibição do primeiro episódio da nova temporada. “Vamos mais a fundo nos personagens da primeira temporada.”

Hewson e André Holland, ator que interpreta o brilhante médico Algernon Edwards, são as duas surpresas do seriado, capazes de se destacar mesmo diante de um inspirado Clive Owen como o médico-chefe do departamento de cirurgia do hospital Knickerbocker. Dois personagens que representam minorias naquela Nova York de 1900, mulheres e negros. E, diante das dificuldades impostas por uma sociedade machista e extremamente racista, Lucy e Algernon crescem.

Holland tem sido um nome comentado nos bastidores como forte candidato para indicações na próxima temporada de premiações da TV, graças à forma como ele deu vida a Algernon. Na primeira temporada, o personagem é apresentado como brilhante médico vindo de Paris para o Knickerbocker. A cor da pele do médico o rebaixa e, ao longo dos dez episódios do primeiro ano, Algernon lida com a frustração de se ver relegado a um papel secundário no hospital por questões que não envolvem seu talento com o bisturi em mãos.

Holland vê, com tristeza, as semelhanças do que se assiste na TV, numa série que se passa há mais de 100 anos, e a realidade norte-americana. Mas a presença de um personagem como o dele lhe dá esperanças. “É um personagem negro complicado, entende? Não preenche um estereótipo de garoto bonzinho ou melhor amigo do protagonista”, diz o ator. “Ele tem um ponto de vista. É talentoso, mas também arrogante. Gentil e, ao mesmo tempo, é violento e raivoso”, completa.

A série acertou, nesse primeiro ano, justamente ao caminhar pelo drama de época, mas com uma linguagem moderna mostrada por Soderbergh. As batidas eletrônicas conduzem os personagens enquanto a câmera do diretor é ágil, seca, dinâmica. A decisão dele de deixar a aposentadoria para se dedicar a The Knick, por enquanto, se mostra acertada. O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO CANAL

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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