‘The Grandmaster’, de Wong Kar-wai, abre a Berlinale

Começou bem. A marca de cosméticos L’Oreal é uma das patrocinadoras da Berlinale (63º Festival Internacional de Cinema de Berlim, que vai até dia 17). Para marcar sua participação, criou uma bolsa com os dizeres – Films love beauty. Os filmes amam a beleza. A melhor forma de provar isso foi o próprio longa de abertura deste ano – The Grandmaster, O Mestre, de Wong Kar-wai, com Tony Leung e Zhang Ziyi. Ele é um tipo viril, ela é de uma beleza de cortar o fôlego. Existem cenas com os dois que o espectador gostaria que durassem uma eternidade, só para ficar olhando. Films love beauty, realmente.

Dá para ouvir o cinéfilo radical se perguntando, aquele que reza pela cartilha do cinema de arte, seja lá o que signifique – o que um filme sobre Ip Man, o mentor de Bruce Lee, faz na abertura de um festival político como Berlim? Um filme de artes marciais – bem, se tem arte no gênero, alguma coisa isso já deverá querer dizer. Existem possibilidades de resposta – Wong Kar-wai é o presidente do júri e exibir seu novo filme na abertura, fora de concurso, como homenagem, é um ganho para todos. Para o festival e para o filme e o diretor, que se beneficiam sem riscos da vitrine da Berlinale. A pergunta de verdade é outra – o que a vida de Ip Man tinha de tão atraente para interessar a um romântico de carteirinha como Kar-wai?

É simples – O Mestre é sobre tudo. Sobre artes marciais e romance, um filme sobre a história da China que se confunde com os destinos individuais. Os personagens muitas vezes falam por metáforas. Zhang Ziyi e Tony Leung estão falando de ópera e falam de amor (sobre eles). Discutem movimentos das artes marciais e estão discutindo a vida. Wong Kar-wai fez uma outra versão de Ashes of Time, Cinzas do Tempo. O filme anterior era sobre outra modalidade de ação – espadachins. Como François Truffaut, um romântico que desconfiava do romantismo, Kar-wai se interroga sobre o que resta de nossos amores.

Três momentos são exemplares – Tony Leung organiza a mulher e os filhos para um retrato da família que será destruída. Não vai restar senão aquele flagrante roubado ao tempo. Numa luta, Zhang Ziyi voa sobre ele e os rostos ficam tão próximos que os lábios quase se tocam. Ele vai ser o grande amor da vida dela e nunca passarão disso, até porque são éticos. Aprendem que o lutador deve viver e morrer com honra. Um homem e uma mulher podem sacrificar a vida, o amor. Mas não a honra – e o vilão, que o faz, unindo-se aos japoneses durante a ocupação da China só vai merecer o desprezo. A terceira cena é uma luta que parece interminável, quando Zhang enfrenta seu desafeto na estação ferroviária, para recuperar a honra da família. Dura o tempo que o trem está saindo. O que é o tempo senão uma experiência subjetiva?

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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