Terceiro episódio de Star Wars estréia amanhã em 400 salas de todo o Brasil

Depois de uma espera de quase 30 anos, os mais afoitos já poderão assistir amanhã (18), à meia-noite, ao episódio que falta para completar a saga de "Star Wars". Le lien manquant, o elo que falta – proclamaram jornais e revistas da França, onde Star Wars Episódio 3 – A Vingança dos Sith provocou verdadeira sensação ao passar, no domingo (15) à noite, no 58.º Festival de Cannes. A mise-en-scène começou fora do palais. Ao longo de toda a escadaria que dá acesso ao Grand Théâtre Lumière, foram dispostas duplas de guerreiros com a armadura branca do império.

Formavam um corredor polonês por onde passavam os convidados. Uma orquestra inteira, disposta na lateral, fornecia a trilha sonora, executando os temas sinfônicos de John Williams. E, para completar, os atores e o diretor – Hayden Christensen, Natalie Portman, Samuel L. Jackson e George Lucas – deixaram sua formação para apertar as mãos das pessoas que, diante do palais, esperam o dia inteiro para ver as celebridades. Foi um delírio como raras vezes se viu em Cannes.

A partir de amanhã (18), cerca de 400 salas de todo o Brasil passam a exibir "A Vingança dos Sith". É um exagero, a prova da dominação que Hollywood exerce sobre o mercado brasileiro, etc. Mas a verdade é que se trata de uma demanda do público. A rede Cinemark vendeu, só na cidade de São Paulo, cerca de 4 mil ingressos para a pré-estréia do filme, e as entradas para todas as suas sessões estão esgotadas. Já a Moviecom tem 80% de suas salas ocupadas. Estimulado pela publicidade (ou não), o espectador que, desde 1977, acompanha a saga estelar de Lucas não vai querer perder o momento culminante de toda a série – a transformação de Annakin Skywalker no vilão.

Lucas deu uma entrevista concorridíssima. Lembrou que começou a escrever "Star Wars em 1971, em plena Guerra do Vietnã. Três anos mais tarde, recebeu o aval da Fox e começou a preparar o que seria o primeiro filme, lançado, na época, como "Guerra nas Estrelas" e rebatizado como "Star Wars Episódio 4 – Uma Nova Esperança". A trilogia anterior teve consultoria do mitólogo Joseph Campbell e mostrava a construção do herói, Lukas Skywalker. A de agora, que, na cronologia do filme completo, vira a primeira, mostra o oposto – a criação do vilão, por meio da transformação de Annakin Skywalker, o pai de Luke, em Darth Vader.

Este terceiro episódio é bem melhor do que os dois anteriores ("A Ameaça Fantasma" e "A Guerra dos Clones"), mas os críticos, em geral, preferem os filmes antigos. Lucas tem uma explicação – "Só me dei conta há um ano. O público que era adolescente ao ver Star Wars está hoje na faixa dos 40 anos e ocupa os postos de comando em jornais, na televisão. Na internet descobri que os jovens que hoje vêem Star Wars preferem os filmes recentes. Temos assim dois públicos na série – o dos espectadores com menos de 25 anos e os de mais de 40. Quero ver daqui a dez anos como será a resposta do público que agora é jovem."

Ele conta que estudou história e política para dar sustentação à trama de "A Vingança dos Sith", que é a transformação da República em Império. Por uma estranha coincidência, o filme chega aos cinemas em plena era de George W. Bush. Timing mais perfeito, nem se Lucas tivesse bola de cristal. Ele concorda que é o filme mais político da série e que tem tudo a ver com o novo império americano, mas diz que não pensava em Bush nem no Iraque. Nem poderia. "Quando escrevi Star Wars, a metáfora era sobre a Guerra do Vietnã." Para ele, os seis filmes formam apenas um. "A história se acaba aqui. Era o que queria contar. Quando comecei a desenvolver o projeto, vi que um filme não seria suficiente. Fiz uma trilogia e outra porque a inicial não dava conta de toda a série. Mas acabou."

Há dois diálogos primorosos neste novo episódio. No primeiro, Annakin e Padmé falam sobre a beleza dela e o papo vira uma discussão sobre a cegueira produzida pelo amor. O que Annakin vai fazer, aderindo ao lado escuro da Força, é por amor. Edipiano, o jovem amarga a perda da mãe e agora não quer perder a amada. Tenta impedir, por todos os meios, que ela morra de parto, ao dar à luz Luke e sua irmã gêmea, Leia. Age cego de amor. No outro diálogo, o general Palpatino é aclamado no Congresso. Ele repete uma frase famosa de Ronald Reagan, o mentor de George W. Bush – ‘It’s morning in America’, que vira "É manhã na República", o início da ditadura do Império. Ouvindo-o, Padmé faz uma reflexão – "Então é assim que a liberdade é assassinada. Sob aplausos."

Lucas foi um visionário do cinema, que ajudou a criar, para o bem e para o mal, a nova estética de Hollywood, baseada nos efeitos especiais. Mas seu visionarismo maior foi o político. Como o jovem Lucas pôde perceber, em plena Guerra do Vietnã, que o alvorecer dos EUA seria essa transformação da República em Império global? Star Wars é o que se chama de work in progress. Lucas está sempre aprimorando seu filme. Um admirador, Bill Krohn, em Cahiers du Cinéma, espera que, em 2012 quando o diretor, amparado nas novas tecnologias, provavelmente estará lançando a versão 3D da saga, o espectador que vibra com Luke Skywalker e seus amigos possa estar comemorando a retomada da República, na era pós-Bush.

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