O presidente americano: em ano de
eleição, no meio do fogo cruzado.

São Paulo – Basta dar uma olhada na lista dos livros de não-ficção mais vendidos nos Estados Unidos. Na lista do The New York Times, esta semana (levantamento que considera 4 mil livrarias e 50 mil outros estabelecimentos, como bancas, lojas de presentes, lojas de departamentos, supermercados), eles são pelo menos 4 entre os 10 primeiros lugares. “Eles” são os detratores profissionais de George W. Bush, artífices de um veio literário que esquenta as prateleiras.

O campeão de vendas é o cineasta e agitador profissional Michael Moore (diretor de Tiros em Columbine), que está há semanas no topo das listas com Dude, Where?s My Country?, seu livro mais recente. Moore, como sempre, é implacável: o título do seu livro é inspirado no fato de que 11% dos americanos, confrontados com um mapa-múndi, não souberam apontar onde ficava seu país.

O antibushismo de Michael Moore é best seller mesmo no Brasil. A rede importadora Livraria Cultura vendeu todos os 40 exemplares que importou de Dude. A rede Fnac informou já ter 80 pedidos de reserva para seu primeiro lote importado e também há grande expectativa para a edição em português do livro, que será lançada no Brasil no fim de março, a tempo da Bienal do Livro.

De olho nesse “mercado do malho”, a W11 Editores, de São Paulo, já está com um produto do gênero pronto para ser lançado: o livro The Best Democracy Money Can Buy: The Truth about Corporate Cons, Globalization and High-Finance Fraudsters, de Greg Palast, repórter da BBC e do Observer, de Londres. Palast detém-se principalmente sobre a política daninha e nem um pouco humanitária, das grandes corporações em relação ao Terceiro Mundo.

Sátira

Mas há dezenas de outros títulos. Nas listas americanas, logo abaixo de Michael Moore, pontifica um artista que coteja uma tradição mais satírica, menos guerrilheira: Al Franken, com Lies (And The Lying Liars Who Tell Them). Franken tem Bush como paradigma, mas seu objeto de análise é toda a direita americana e seus bordões, a forma de tachar de “traidor da pátria” quem discorda dos métodos de seus governos. “Todos os presidentes americanos mentiram, mas George W. Bush maltrata reiteradamente a verdade”, diz a introdução do livro The Lies of George W. Bush: Mastering the Politics of Deception, de David Corn, outro autor que pega pesado com Bush.

A colunista Molly Ivins, autora de Bushwhacked: Life in George W. Bush?s America, já tinha escrito sobre a desastrosa administração Bush durante o governo do Texas, no livro Shrub. Agora ela aborda a presidência e, embora se detenha sobre temas muito explorados (os casos Enron e a guerra no Iraque), é dura e destrincha o atual presidente americano, “o único na História a aumentar impostos e ir para a guerra simultaneamente”.

Governantes passam incólumes

Aquilo que faz tanto sucesso nos Estados Unidos, infelizmente, não tem equivalente no Brasil. O presidente Fernando Henrique Cardoso ficou 8 anos no poder e não há um só livro que faça um raio X de sua estada no Planalto, que a examine com contundência e à luz de revelações e fatos novos.

Em 2001, o baiano João Carlos Teixeira Gomes percorreu todas as editoras possíveis no País com os originais de Memória das Trevas, no qual dissecava aspectos pouco elogiosos do governo de Antônio Carlos Magalhães na Bahia. Todos o recusaram, até que, em 2002, a editora paulistana Geração Editorial encampou as teses de Gomes e publicou o livro. Vendeu 52 mil exemplares, um feito para não-ficção no Brasil.

“Mercado tem. O que não tem é autor escrevendo e editor publicando”, diz Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial. Ele diz que recebe algumas propostas, mas a maioria é “uma catilinária horrível e impublicável”. “É mais fácil encontrar livro de elogio no País. Os autores, mesmo quando têm essa coragem de escrever, não a encontram no meio editorial”, considera o editor.

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