Tempo relativo

Novelas de época costumam colorir o passado de cor-de-rosa e apresentar personagens de uma ingenuidade que beira o imbecil. O Profeta foge à regra, com uma trama mais afeita às novelas ambientadas nos dias de hoje. Além de tratar de temas considerados tabus nos anos 50 com desconcertante naturalidade – como gravidez antes do casamento – seus heróis logo perderam a tão habitual pureza das novelas de época.

O vidente Marcos, de Thiago Fragoso, por exemplo, começou a trama de Walcyr Carrasco como um abnegado salvador de criançinhas em incêndios e evitando outros acidentes com seu dom. Mas nem chegou ao meio da trama e o angelical galãzinho de cachinhos louros assume ares diabólicos. Aliou-se aos vilões Camilo, de Malvino Salvador, e a gananciosa Ruth, de Carol Castro, e só pensa em usar a vidência para ganhar dinheiro. Já a sonsa Baby, de Juliana Didone, quer casar com o namorado Tony – ?bad boy? de Daniel Ávila – e inventa uma falsa gravidez para a mãe.

O que mais impressiona é a espontaneidade com que Ester, a conservadora mãe de Baby, vivida por Vera Zimmermann, lida com a situação. Algumas cenas em que ambas discutiam pareciam se confundir com os questionamentos atuais abordados em Malhação. Talvez seja a proximidade com o horário do ?folheteen? e a intenção de herdar o público do horário. Esse pode ser um fator que determina a contemporaneidade da abordagem das relações. Afinal, seria um escândalo para uma família da década de 50 ter uma filha adolescente grávida antes mesmo de ser noiva, como é o caso de Baby.

A pretensa ingenuidade da época é resgatada por alguns personagens para apenas ?dar o tom? dos recatados Anos Dourados. Sônia, a protagonista de Paola Oliveira, é o retrato mais fiel da docilidade das mocinhas tipo ?biscuit?, que balançavam suas saias rodadas como etéreas dançarinas de caixinhas de música. Mas fica por aí. Quando não se trata da atualidade dos temas e dos extremos angelicais, a trama lança mão do humor com personagens caricaturais, como a impagável charlatã Rúbia, de Rosi Campos. Ou mesmo a deslocada ?patinha feia? Carola, de Fernanda Souza.

Na mesma linha, Rodrigo Faro parece se superar como o rústico Tainha, o divertido peixeiro com pinta de marinheiro. A indisfarçável homenagem ao marinheiro Popeye, com tatuagens de âncoras e um tubarão nas nádegas, confere um humor eficiente ao aprendiz de sedutor. Com isso, Rodrigo, Rosi e Fernanda destacam-se como o trio que sustenta os momentos mais divertidos da novela. O que não garante o sucesso da trama, que capenga com a insatisfatória média de 29 pontos na audiência, com 51% de participação. 

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