Fundado em 1983 graças à obstinação de dona Lucia Rocha, mãe de Glauber, com o objetivo de reunir e propagar a obra seminal do cineasta, o Tempo Glauber está encerrando suas atividades. Mas o fim desse filme de amor ao legado glauberiano e ao cinema não é triste, diz Paloma Rocha, a primogênita de Glauber.

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O criador baiano morreu em 1981, deixando, para além de sua filmografia, livros com anotações pessoais, diários, cartazes originais dos filmes e objetos pessoais – um memorial pequeno, mas de grande valor, em se tratando de um dos pilares do cinema nacional.

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Equipado com sala de cinema e espaço para eventos, o casarão centenário do bairro de Botafogo, cedido em comodato pelo INSS a dona Lucia, abrigou esse conjunto e atraiu pesquisadores e um público que o frequentava como centro cultural.

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A mãe de Glauber, que morreu em 2014, e a filha passaram por toda a sorte de dificuldade para ver o Tempo Glauber funcionando. Em 1993, chegaram a fechar as portas, diante da total escassez de recursos, para dois anos depois retomá-lo.

Com apoios esporádicos de empresas privadas e governos, e tendo como aliados amigos de Glauber, como o produtor Luiz Carlos Barreto e o cineasta Cacá Diegues, a defendê-lo em manifestos públicos, o espaço manteve uma agenda de exibição de filmes, cursos e exposições.

Em 2015, a família se afastou, esgotada. “Não estava conseguindo levar à frente, fazer projetos sem dinheiro. É um desgaste muito grande, um trabalho inglório. Fiz o meu melhor e estou realizada: a obra do Glauber está salva. O acervo principal já está na Cinemateca Brasileira desde 2011, e agora tudo o que restava no Tempo Glauber será levado para lá”, explica Paloma.

A situação se tornou insustentável este ano, quando o INSS, diante do fim do período previsto de comodato, passou a cobrar um aluguel de R$ 25 mil pela casa, com o qual os produtores culturais que garantiam a sobrevida do espaço, com a realização de cineclubes e de eventos depois da saída da família Rocha, não tinham condições de arcar.

O INSS argumenta que “a legislação vigente impede que se ceda qualquer imóvel sem pagamento de aluguel ou taxa de ocupação”. O Ministério da Cultura interveio em favor do Tempo Glauber, mas Paloma não deseja continuar lutando pela permanência da casa. Ela solicitou então ao MinC a costura de uma anistia de dívidas de aluguel e IPTU com o INSS e a garantia da transferência do acervo restante para a Cinemateca, além de um compromisso com a acessibilidade à obra.

“O Tempo Glauber é o acervo do Glauber, não o imóvel. Ele tem esse nome porque não está condicionado ao espaço. Agora começa uma nova etapa. A obra tem que circular. Não trabalhamos doze anos no restauro dos filmes para eles ficarem enfurnados numa caixa de poeira”, diz Paloma. “A gente sabe que o comodato venceu, mas é triste ver a casa sendo tomada da sociedade para ser vendida a uma construtora qualquer fazer um prédio de 15 andares”, lamenta o produtor Fred Cardoso, que vinha à frente da direção executiva da Associação de Amigos do Tempo Glauber.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.