Autor do melhor livro sobre a vida e obra de Otto Preminger – “The World and Its Double” -, Chris Fujiwara faz uma afirmação à qual vale voltar, agora que “Tempestade Sobre Washington” está saindo em DVD pela Cult Classics. O crítico e historiador observa que Preminger permanece no imaginário dos cinéfilos por seus clássicos noir, como “Laura” a “Bunny Lake Desapareceu”, passando por “Alma em Pânico”, ou então é lembrado pelas batalhas com a censura de Hollywood para impor o realismo social de obras como “O Homem do Braço de Ouro” e “Anatomia de Um Crime”. Preminger também realizou musicais e um western, mas quem quiser se debruçar seriamente sobre o autor precisará se concentrar no bloco de quatro filmes dos anos 1960.
“Exodus”, “Tempestade Sobre Washington”, “O Cardeal” e “A Primeira Vitória” formam mais que esse bloco de sólida coerência estética e política. São os filmes que expõem o credo premingeriano. De tanto invocar a Suprema Corte em sua guerra pela liberdade de expressão no cinema americano, Preminger se apercebeu do valor das instituições no sistema democrático. É, por excelência, o autor que disseca o funcionamento da democracia.
Ele comprou os direitos do livro “Advise & Consent” em 1959. O autor era Allen Drury, um republicano conservador, e Preminger logo fez saber que iria limpar o livro do seu reacionarismo, mas não pretendia fixar uma posição política, no sentido de partidária. Para o produtor e diretor, o tema de “Tempestade Sobre Washington” não é propriamente a política, embora se passe, em boa medida, nos meandros do Congresso dos EUA. O tema de seu filme, dizia Preminger, é a ética. É, por isso, que passado tanto tempo – estreou em 1962 -, “Tempestade” permanece tão vivo.
O ponto central da narrativa é o processo de validação, pelo Congresso, do nome secretário de Estado, anunciado pelo presidente. Henry Fonda desperta polêmica porque anuncia o início do diálogo com a União Soviética – o anticomunismo ainda era tão forte, na época, que Preminger, por “Exodus”, e Kirk Douglas, produtor de “Spartacus”, compraram uma briga para impor o roteirista Dalton Trumbo, que estava na lista negra. As investigações dos congressistas levantam a suspeita de que Fonda, o personagem, teria tido ligações com o Partido Comunista. Para desviar a atenção, um de seus apoiadores pressiona um integrante da comissão do Senado que avaliza a homologação do secretário, ameaçando-o com um escândalo – a revelação de um episódio de homossexualismo em sua juventude. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Tempestade Sobre Washington – Direção: Otto Preminger (EUA/ 1962, 139 minutos). Elenco: Henry Fonda, Charles Laughton. Distribuidora: Cult Classic. Preço: 29,90.