Os esforços dos atores para conquistar papéis em novelas e em outras produções já fazem parte da profissão. Um dos caminhos é entrar na panelinha de um diretor ou autor qualquer, o que garante papéis sempre que o protetor esteja à frente de um projeto. Mas para os que estão fora das panelas, ou seja, a maioria absoluta, há outras estratégias. Inclusive a do desespero.
Muitos atores partem para abordar pessoalmente diretores e autores de novelas em busca de um papel. O autor Antônio Calmon, que atualmente escreve a novela Começar de Novo, da Globo, é curto e grosso a respeito do assunto. “Vou logo dizendo aos atores que a melhor maneira de trabalhar comigo é não me assediar”, adverte. Já o novelista Sílvio de Abreu não se importa com o assédio, mas não tolera os atores que enviam currículos e outros materiais para seu endereço de casa. “Quem faz isso já perde ponto comigo”, confessa.
A autora Maria Carmem Barbosa, que atualmente está escrevendo a próxima novela das sete, em parceria com Miguel Falabella, conta que nunca chegou a passar por nenhuma situação constrangedora. “O Miguel é mais assediado. Ele, como é amigo de muitos atores, sofre mais com isso”, entrega. Sílvio de Abreu, por sua vez, já passou por constrangimentos. O autor lembra que uma vez estava no cinema quando uma atriz sentou ao seu lado e passou quase metade do filme falando de suas qualidades. “Tive de mudar de lugar”, recorda. Sílvio admite, porém, que é mais constrangedor ser assediado por atores que já têm uma carreira consolidada. “Respeito e conheço o trabalho, mas não posso fazer nada”, comenta.
Constrangimentos
Antônio Calmon também passou por situações constrangedoras. Mesmo trancado em casa, o autor não se viu livre de ser incomodado. Ele conta que já teve problemas com um ator e com uma candidata a atriz no edifício onde mora. Ela conseguiu entrar no apartamento e o ator ficou no corredor. Mas pelo menos não houve maiores dramas: a dupla foi embora assim que Calmon pediu a eles que se retirassem. “É invasão de privacidade. Nenhum deles jamais trabalhará comigo”, avisa. A novelista Ana Maria Moretzsohn também não gosta do assédio, mas odeia mesmo é ser abordada por atores pedindo para que seus personagens ganhem maior destaque nas tramas que escreve. “Algumas participações especiais sugerem que desejariam continuar na novela, mas não dou importância”, avisa.
O outro lado
Já o diretor Jorge Fernando é um exemplo de que um pouco de assédio pode até render benefícios na carreira. Em 1978, o então ator observou, durante uma semana, a rotina do escritório de Walter Avancini. Esperou que a secretária do diretor saísse e não se intimidou. Afoito e com a adrenalina a mil, Jorge Fernando invadiu a sala do diretor e começou a interpretar o monólogo História do Zoológico, de Eduardo Albi. “Depois que acabei de interpretar, ele ligou para o Daniel Filho e pediu para que ele me recebesse para fazer um teste”, lembra. A iniciativa de Jorge Fernando deu certo e ele foi escalado para fazer parte do seriado Ciranda, Cirandinha, da Globo, que foi ao ar no mesmo ano. Desde, então, Jorge Fernando não parou mais. Atualmente é diretor de núcleo na emissora, posição que faz com que seja também assediado por atores que desejam conquistar um lugar ao sol. “Não me importo com o assédio, que realmente existe e tem de existir mesmo”, avalia, acrescentando que, sempre que monta uma peça teatral, recebe até 100 currículos, dos quais apenas cinco, em média, são aproveitáveis.
Muitas propostas indecentes
Apesar dos diretores musicais, alguns autores de novelas também são assediados por cantores e grupos musicais para integrarem a trilha sonora das novelas. A cada produção eles recebem dezenas de CDs com o trabalho desses artistas.
# Ana Maria Moretzsohn sempre sugere algumas músicas para compor a trilha sonora de suas novelas. “Mas nem todas as sugestões eu consigo emplacar”, conta.
# A atriz Drica Moraes estreou em Top Model, de Walter Negrão, fazendo apenas uma pequena participação. Mas, depois que o autor gostou da sua interpretação para a doméstica Cida, o papel da atriz ganhou importância. “De cara percebi o talento dela e aumentei sua participação”, recorda.
# O autor Sílvio de Abreu trabalhou durante oito anos como ator. Ele não se intimidava em pedir papéis em novelas. “Sempre procurava autores e diretores também”, lembra.