No dia 30 de maio de 1880, o imperador do Brasil, dom Pedro II, em visita à cidade da Lapa, a 70 quilômetros de Curitiba, prestigiou uma das primeiras apresentações realizadas no Teatro São João. 128 anos depois de sua fundação, o teatro passou por uma restauração de cinco meses e foi reaberto ontem, em meio às comemorações do Dia da Independência.
O espaço cultural, inaugurado em 1876 que ainda não tinha abrigado nenhuma encenação até 1880 – tampouco alguma performance musical. Entretanto, com a presença ilustre, foi então que o arquiteto responsável pelo teatro, Francisco Teres de Porto, foi solicitado pelos organizadores da visita, e acabou declamando uma poesia em homenagem ao imperador. Segundo a direção do teatro, esse foi o primeiro “espetáculo” realizado no local.
Durante todo o dia de ontem, as festividades foram acompanhadas pelo tataraneto do imperador dom Pedro II, dom Bertrand de Orleans e Bragança, que com a família também participou da reabertura do teatro. A cerimônia ainda teve a apresentação da Orquestra Harmônica, de Curitiba e da soprano Denise Sartori. “É de extrema importância a restauração que aqui foi realizada. É uma obra do século XIX, que foi preservada e que tem um valor histórico enorme”, destacou o príncipe.
Apesar de apresentar problemas de estrutura e iluminação, segundo a diretora do teatro, Marli Maria Rasmussen, algumas pequenas apresentações ainda estavam sendo realizadas no teatro nos últimos anos.
As reformas foram iniciadas em março e, durante esse período, o espaço ficou fechado. As obras foram realizadas por meio de um convênio com a Petrobras, que investiu R$ 632 mil na restauração. Segundo a direção do espaço, a organização não governamental Darma, de Curitiba, acompanhou os trabalhos.
“Estava complicado, porque a iluminação não existia. E o palco também estava em condições ruins. Não podíamos apresentar um balé ou uma dança flamenca, que era perigoso o palco despencar”, conta Marli. Durante a restauração, foram retirados quatro caminhões de entulho do teatro.
Mesmo antes de ser concluída a obra, a agenda do teatro já estava lotada. Somente nesse mês, o espaço vai abrigar duas apresentações de dança, o coral de Itaipu e a Banda da Polícia Militar do Paraná. “É uma sensação indiscutível ver toda a estrutura restaurada, e poder agendar novos espetáculos”, disse a diretora.
Promised Land e a escravidão branca
Promised Land, o novo filme de Amos Gitai, compete pelo Leão de Ouro em Veneza com um tema explosivo, se não for abuso deste termo: a importação de prostitutas do Leste Europeu pelos bordéis de Israel ou da Palestina. As moças vêm de países saídos da órbita soviética, ou da própria Rússia pós-socialista, e são transportadas como gado. Escravas brancas, como se diz. Há um tom franco de documentário nesse filme tocante, que no entanto não foi tão bem recebido como merecia.
No entanto, a primeira meia hora, sobretudo, é poderosa. Vemos as moças no deserto, em tomadas feitas com câmera na mão, inquietas, e fotografia claustrofóbica, apesar de as cenas se passarem em espaço aberto, no deserto do Sinai. É tudo muito violento, agressivo. E essa era uma grande questão para Gitai: precisava retratar a violência, mas sem glamourizá-la, o que virou uma complicação para os cineastas da época pós-Tarantino, apóstolo do sangue como entretenimento.