Teatro “Novelas Curitibanas” será centro de excelência em produção

A Prefeitura de Curitiba reabre na próxima quarta-feira (13) o Teatro Novelas Curitibanas, que passou por uma ampla reforma depois de fechado por sete anos. A solenidade de reabertura do espaço será às 19h30, com a presença do prefeito Beto Richa. A reforma foi feita com recursos do Fundo Municipal de Cultura, um investimento de R$ 520 mil.

A reabertura do Novelas Curitibanas faz parte do Programa de Recuperação de Espaços Culturais, desenvolvido pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC). O projeto de restauro foi feito pelo Setor de Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), sob coordenação do arquiteto Fernando Popp.

Na quinta-feira (14) estreará a peça "Sob a Influência – Cinco obras inspiradas por Curitiba", montada por cinco diretores teatrais da idade especialmente para marcar a reabertura do espaço.

"Devolver o Novelas Curitibanas à comunidade e à classe artística é mais um passo importante desse programa inédito de recuperação de espaços culturais. A história desses prédios se entrelaça com a história da cidade. Além de endereço para atividades artísticas, eles são ícones da arquitetura, da memória e da identidade dos curitibanos", afirma o prefeito Beto Richa.

O Programa de Recuperação de Espaços Culturais reformou o Teatro Paiol, Teatro do Piá, Ópera de Arame, Memorial de Curitiba, Solar do Barão, Espaço Cultural Frans Krajcberg, Cinemateca e Cine Luz.

"Apesar de seu valor histórico e cultural, esses espaços não vinham recebendo a atenção merecida e foram se deteriorando ao longo dos anos. Na gestão do prefeito Beto Richa, esse cenário começou a mudar", afirma o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Paulino Viapiana.

A entrega do Novelas Curitibanas é acompanhada por um projeto que prevê uma programação artística permanente no espaço. Pelo Fundo Municipal de Cultura, foi lançado edital público para financiar produções teatrais para a temporada de 2007. Serão contemplados quatro trabalhos que permitam compartilhar com a comunidade os diversos gêneros do teatro.

A proposta tem três linhas de ação: apresentação de produções locais inéditas, financiadas pelo Fundo de Cultura, formação de profissionais de teatro através do Centro de Pesquisa Oraci Gemba, e realização de parcerias com grupos independentes, instituições de ensino e consulados. "A idéia é transformar o Novelas Curitibanas em centro de excelência das artes cênicas em Curitiba", afirma o diretor de Ação Cultural da FCC, Beto Lanza.

Sob a Influência

Montada especialmente para a reabertura do Teatro Novelas Curitibanas, o espetáculo "Sob a Influência – Cinco obras inspiradas por Curitiba" ficará em cartaz até 8 de outubro, de quinta-feira a domingo, às 21h. Os textos são de Márcio Abreu, Edson Bueno, Fernando Kinas, Marcelo Marchioro e Felipe Hirsch. Cada montagem tem duração de 20 minutos.

A reabertura do espaço é festejada pelos diretores teatrais. "O Novelas Curitibanas sempre foi muito importante para Curitiba. Foi doloroso ver o espaço permanecer fechado por um longo período. A retomada é sensacional", afirma o ator e diretor Edson Bueno. Bueno colocará em cena o texto "Dentro de mim mora um grito", inspirado na artista plástica curitibana Denise Queiroz, que morreu aos 26 anos.

Em "Casulo", o diretor Fernando Kinas propõe uma reflexão sobre o teatro, o mundo atual e o grau de importância que a cidade dispensa às artes. "O Novelas Curitibanas é um espaço importante para os artistas e para a sociedade curitibana", diz o diretor. "A reabertura do Novelas Curitibanas é motivo de comemoração", acrescenta o diretor Márcio Abreu, autor do texto "Polifonias".

Marcelo Marchioro, que apresenta a peça "Pico na Veia", sobre o escritor Dalton Trevisan, dirigiu anteriormente duas montagens no Novelas Curitibanas. "A possibilidade de voltar a esse lugar é fundamental para o meu trabalho e para o teatro curitibano", diz. O espetáculo inclui também a peça "Sobre o amor", de Felipe Hirsch.

Residência

O imóvel que abriga o Teatro Novelas Curitibanas tem uma trajetória de ocupação que marca a história da cidade. Em 1902, quando a Rua do Serrito, hoje Carlos Cavalcanti, ainda era uma ladeira de terra em direção à Estrada de Santa Felicidade, teve início a construção da casa que receberia a família de Ormuzd e Manoel Bernardino Vieira Cavalcanti Filho.

O terreno, no qual foi erguida a residência, era remanescente da antiga chácara do médico e Inspetor Geral de Higiene do Estado, Trajano Reis, que dividira a área entre seus três filhos, Albano, Jayme e Ormuzd. A filha Ormuzd se casou aos 18 anos, em 1896, com Manoel Bernadino Vieira Cavalcanti Filho, pernambucano, que aqui ocupou cargos de Desembargador, Presidente do Tribunal de Justiça e Diretor da Faculdade de Direito.

Seis anos depois, o casal construiu o chalé que, segundo a crônica familiar, teria sido projetado por um arquiteto francês que passou pela cidade. Na residência, cercada por jardins, caminhos revestidos de pedra e pomares, o casal criou oito filhos: Manoel, Irene, Maria Luiza, Dinah, Maria Nazareth, Gladys, Maria José e Trajano.

O cotidiano da casa – animado pelas reuniões entre amigos para cantar, ouvir música e declamar – dividia espaço com as atividades profissionais de Vieira Cavalcanti. Em 1925, Cavalcanti levou a redação da revista "Paraná Judiciário" para o chalé. A partir de 1936, com a morte do pai, Maria Luiza assumiu a direção da revista.

Maria Luiza morou na casa até morrer, em 1969. O chalé foi ocupado pelo Instituto de Assistência ao Menor, que ali permaneceu até 1973. No ano seguinte, a casa foi vendida e transformada em pensão. Tempos depois, abrigou uma sauna e ficou popularmente conhecida como "Castelo Dourado". Novamente vendida, em 1991, para uma empresa de construção civil, foi doada, em acordo com o município, para se transformar em espaço cultural. Em novembro de 1992 foi entregue à cidade o Teatro Novelas Curitibanas.

A primeira peça encenada no Teatro Novelas Curitibanas foi "O Vampiro e a Polaquinha", de Dalton Trevisan, que ficou em cartaz por quatro anos, sob a direção de Ademar Guerra. Na peça, 17 atores encarnavam figuras e situações com as quais o público facilmente se identificava.

Recorde de público, após mais de mil apresentações no Novelas Curitibanas, a peça seguiu para outros espaços da cidade. No entanto, em nenhum outro a peça foi tão privilegiada: o antigo chalé dos Vieira Cavalcanti tinha a atmosfera perfeita, quando até mesmo os barulhos vindos da rua e das casas vizinhas contribuíam para o andamento do espetáculo.

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