O Teatro Municipal de São Paulo anunciou ontem, 20, que a ópera O Ouro do Reno, de Wagner, prevista para novembro, será apresentada apenas em versão de concerto – ou seja, sem cenários ou figurinos. Questionada sobre os motivos que levaram à decisão, a Fundação Teatro Municipal disse apenas que ela se deve a “questões administrativas internas”. Nos bastidores, porém, fala-se de divergências entre a direção da casa e o diretor cênico André Heller-Lopes.
O Municipal não confirma a informação e, na nota distribuída à imprensa, se limita a dizer que “as datas dos concertos serão as mesmas programadas para as récitas” e que o objetivo “é manter o elenco anunciado em sua integralidade, assim como a direção musical do maestro Luiz Fernando Malheiro”. “O público que adquiriu seu ingresso terá a opção de ressarcimento na bilheteria do Theatro Municipal”, diz ainda o texto.
Em entrevista à reportagem, concedida por telefone de Buenos Aires, onde dirige uma produção da ópera Jenufa, Heller-Lopes classificou a decisão do teatro de “inexplicável e lamentável”. “Os cenários estão desenhados, os figurinos estão desenhados, já começaram a ser confeccionados. Nem sei o que dizer, mas é realmente uma lástima que a única produção feita por um brasileiro na temporada deste ano seja cancelada dessa forma, por e-mail.”
Heller-Lopes fez, desde o início da gestão de John Neschling como diretor artístico, em janeiro, críticas a algumas das decisões do maestro. Em sua página no Facebook, por exemplo, elogiou a atuação de cantores brasileiros na ópera Don Giovanni e chamou de “genéricos” alguns dos solistas estrangeiros convidados pelo teatro – um deles, o tenor Emilio Pons, que atua na temporada atual da ópera Don Giovanni, de Mozart, chegou a questioná-lo na rede social pelo conteúdo do comentário. O post foi apagado em seguida.
O diretor também questionou publicamente, em entrevista à reportagem concedida no começo de julho, a decisão do maestro de não dar continuidade, em 2014, ao ciclo O Anel do Nibelungo, de Wagner, que inclui quatro óperas e tem sido dirigido por ele – em 2011, foi apresentada A Valquíria; em 2012, O Crepúsculo dos Deuses; e, depois de O Ouro do Reno em 2013, a expectativa era de que a ópera restante, Siegfried, subisse ao palco em 2014, encerrando a tetralogia.
O que se diz nos bastidores é que as manifestações públicas do diretor teriam gerado um clima insustentável de trabalho. Mas Heller-Lopes não concorda. “Ainda na semana passada, antes de eu vir para Buenos Aires, deixamos prontas duas das quatro cenas de Ouro do Reno. O projeto cenográfico e de figurino está concluído e, na sexta passada, ele foi apresentado ao próprio Neschling. Acho que aí, nessa conversa, reside a chave de todo esse problema. Nós discordamos e eu não me calei. Eu tenho uma personalidade forte, mas procuro trabalhar com parceiros artísticos e não subordinados. Um teatro como o Municipal é público e não pertence a uma só pessoa.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.