"Mestre Haroldo…e os meninos", espetáculo teatral que o Teatro da Caixa apresenta de 5 a 8 de junho, ataca a democracia racial entre brancos e negros ao denunciar o preconceito internalizado – aquele que não se manifesta e é escondido pela aparente paz das relações afetivas. A peça, do sul-africano Athol Fugard, retrata o exato momento quando ocorre um ruído na afetividade entre brancos e negros. Nesse instante, o branco retoma sua posição de opressor e manda o negro colocar-se em seu lugar.
Com humor e sarcasmo esse drama – a 12ª Montagem do Núcleo de Teatro do TCA (Teatro Castro Alves, de Salvador) – se passa na África do Sul, mas como no Brasil, o tema, quase subliminar, da democracia racial permeia a vida dos três personagens: dois negros e um menino branco.
Dirigida pelo premiado Ewald Hackler, a peça, que tem no elenco os atores Gideon Rosa, Igor Epifânio e José Carlos Ngão, ganhou duas indicações para o Prêmio Braskem (Melhor Espetáculo e Melhor Ator). De modo contrário ao que ocorre tradicionalmente quando se aborda a questão racial no teatro, "Mestre Haroldo…" não promove uma discussão ideológica, não constrói um discurso explícito do conflito entre brancos e negros. Numa dramaturgia muito vigorosa, dona de uma carpintaria de alto nível, a peça concentra-se na relação entre o adolescente branco Haroldo e seus dois empregados-amigos Samuel e Walney.
Entre o menino e, em particular, com um dos negros, Samuel, a relação é, aparentemente, de pai e filho – e o público acompanha cada um dos passos de como o negro tenta ensinar seus valores ao menino branco que não pode contar com a ajuda do pai legítimo, um alcoólatra e deficiente físico.
O espetáculo
Chove. É neste clima de tarde chuvosa que o público vê os personagens de "Mestre haroldo…e os meninos" tomando forma e vai se familiarizando com seus conflitos externos e internos. Talvez, não fora a chuva, não teria havido o conflito que se desencadeará diante dos espectadores. Um homem tenta mostrar ao outro seus passos de dança no mesmo ritmo monótono da chuva que cai lá fora. Enquanto ensaiam, o menino chega e o ambiente se ilumina definitivamente com a esfuziante aparição de um adolescente sagaz e afetivo que – pelas observações – será um futuro escritor. O menino come, os negros brincam entre si e, finalmente, surgem as lembranças que desfilam diante do público: uma vida comum e íntima de mais de uma década. Tudo vai bem entre uma memória e outra até que o telefone toca e a realidade penetra a cena de forma perturbadora.
Em ruptura, a peça termina e deixa para o espectador a oportunidade de reflexão sobre um tema delicado, raramente discutido num nível que evita estereótipos, clichês e palavras de ordem, mas ataca o essencial: o que escondem as democráticas relações entre brancos e negros.
Serviço
Espetáculo: "Mestre Haroldo… e os meninos"
Local: Teatro da Caixa
Data: 05 a 08/06/2008
Horários: 21 h (quinta a sábado) e 19h (domingo)
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Edifício Sede II
Recepção: 2118-5111
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (clientes, idosos e estudantes)
Classificação etária: 14 anos
Lotação máxima do teatro: 123 lugares
