Um dos destaques da exposição Tauromaquia, que vai ser aberta neste sábado, 10, para convidados e no domingo, 11, para o público no Museu de Arte Brasileira (MAB) da Faap, é a apresentação de uma edição feita a partir dos desenhos preliminares que Pablo Picasso realizou para compor a pintura Guernica, na qual um touro é representado com três olhos.
Os originais pertencem ao Museu Reina Sofia de Madri, onde o quadro criado como reação ao bombardeio na cidade espanhola, em 1937, fica exposto. Mas será possível ver, em São Paulo, 42 trabalhos editados na década de 1950 dos esboços do artista. “Ele começa usando cores para mostrar as expressões das pessoas durante a guerra e do cavalo, mas aos poucos vai deixando o colorido para chegar ao preto e branco, sua solução final”, afirma a curadora Serena Baccaglini. A concepção da histórica pintura remete, na verdade, à série Sonho e Mentira de Franco do espanhol, também em exibição.
O projeto da exposição começou, justamente, com Pablo Picasso, que dedicou boa parte de sua trajetória à tauromaquia (também uma expressão sobre a fertilidade). Tão vasta é a aparição do tema em suas criações que a Fundação Picasso de Málaga (cidade natal do artista) convidou as curadoras da mostra, elas contam, para a realização de um catálogo raisonné sobre esse segmento. Entre gravuras, desenhos, fotografias e reproduções, o pintor é representado na mostra por 125 peças.
Além das já citadas Sonho e Mentira de Franco (1937) e Le Cocu Magnifique (1966), a exposição traz obras do conjunto intitulado Carmen (1949), ilustrações para o romance de Prosper Mérimée. Trata-se de 38 gravuras “retratando faces de homens e mulheres, os costumes da Andaluzia, e cabeças de touros”, explica Serena. De séries, ainda, é importante destacar o poema O Cantos dos Mortos (1941), de Pierre Reverdy, ilustrado pelo espanhol com espécies de símbolos abstratos e vermelhos. E mais, principalmente, seus trabalhos intitulados Tauromaquia, gravuras em metal, água-tinta açucarada e ponta seca executadas em 1959 e que se originam da Tauromaquia Suite, de 1957. Nelas, curiosamente, a luta entre o bem e o mal é explorada pelo recurso do uso da luz e sombra, do branco e do preto. Pela técnica usada por Picasso, essas obras ganham uma fluidez nos traços, uma “rapidez”.
Escola
“Quando Picasso reduziu os trabalhos literais da tauromaquia a uma série de gravuras simples, ele captou os fundamentos essenciais das regras e dos rituais cerimoniais a serem incluídos no esporte da tourada por toda a Espanha”, descreve Serena Baccaglini. Em um dos trabalhos da série é possível perceber a menção que o pintor cubista faz a Goya – uma representação acrobática do toureiro que também aparece nas obras criadas no século 19 pelo mestre.
Na mostra Tauromaquia, assim, a presença de Goya é fundamental. A série gráfica homônima é referencial na carreira do artista, ao lado dos outros conjuntos que ele executou em cerca de 30 anos – Desastres da Guerra, Caprichos e Disparates. Criações repletas de crítica e de ironia foram exibidas, em 2007, no Masp. “A edição de melhor qualidade desta série estará aqui”, define Monika Burian Jourdan, completando que são peças provenientes de uma coleção particular europeia (aliás, como a maioria dos trabalhos expostos). “Uma das gravuras representa a morte, na arena, do famoso toureiro Jose Delgado, autor da bíblia da tauromaquia no século 17”, conta Serena Baccaglini.
Por fim, Salvador Dalí está representado na exposição por apenas oito obras. Além da escultura Minotauro, o catalão – que terá grande mostra de suas criações no Brasil (leia abaixo) – participa de Tauromaquia com série de litografias realizadas em 1965. “Picasso dizia que Dalí era melhor ilustrado que pintor”, diz
a curadora italiana.
São trabalhos do surrealista inspirados na Tauromaquia Suite, de Picasso. Conta Serena que a série foi presenteada pelo artista a sua editora nova iorquina Phillys Lucas, proprietária, falecida, da Old Print House. “A tourada é a única arte na qual o artista está em perigo de morte e em que o grau de esplendor na apresentação é deixado para a honra do lutador”, diz Serena, citando trecho de livro do escritor Ernest Hemingway no catálogo.
Ainda este ano, mais Dalí no Brasil
Ainda este mês, será inaugurada no dia 29, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, a mostra Dalí, com 11 pinturas a óleo do artista (pertencentes ao Museu Reina Sofia, ao Teatro-Museu Dalí de Figueras e ao Museu Dalí da Flórida), além de peças gráficas, livros, objetos, fotografias, filmes e documentos.
Primeira grande mostra dedicada ao surrealista na América do Sul, realizada com orçamento de R$ 9 milhões, a exposição será apresentada a partir de 16 de
outubro no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.