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Tata Amaral, a estética que causa na rua

Por ser diretora, e conhecida, Tata Amaral está acostumada com pessoas que chegam para ela com histórias que, supostamente, dariam filmes. Quando chegam com esse discurso, ela relaxa e diz, consigo mesma – “Vamos lá!” Em geral, as histórias não dão filmes, ou dariam filmes que não lhe interessam. O caso que resultou em Sequestro Relâmpago é diferente. Quando uma amiga professora lhe contou a história ocorrida com uma aluna, Tata pensou – “Ops! Esse me interessa.” Interessa tanto que ela dedicou quatro anos de sua vida ao esforço de fazer Sequestro Relâmpago. Roteiro, produção, realização. Pensam que é fácil?

Todos os filmes realizados por Tata Amaral possuem um recorte político e social muito forte, e além do mais são feministas de carteirinha. “Para mim todas essas coisas são muito ligadas. O feminismo tem a ver com condições políticas e sociais, com a representatividade. Não falo apenas na representatividade de mulheres, mulheres negras e trans, lésbicas, indígenas. Falo das condições do jovem negro, vítima da violência, do gay, do índio. Meu cinema é comprometido com tudo isso.” Sequestro Relâmpago estreia nesta quinta 22. No sábado, haverá projeção seguida de debate no Jardim Ibirapuera, onde parte do longa foi rodada. Tata está louca para mostrar seu filme, ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre ele.

Algumas feministas andam torcendo o nariz. Fazem reparos na protagonista, a personagem de Marina Ruy Barbosa. Acham que Sidney Santiago foi escalado errado. Vamos por partes. No filme, Marina faz uma profissional que deixa o trabalho e vai para a vida. Ela começa o filme com um modelito bem clássico – cabelo, roupa. Liberta, desmonta o modelo para ir à happy hour. Solta o cabelo, troca o sapato. Outra mulher. Entra em cena a dupla de assaltantes que praticam o sequestro relâmpago. Dentro do carro, Marina (a personagem) dialoga com os “criminosos”. Insiste no discurso de que é igual a eles. Ouve rap, sabe os versos de cor. Mas a barra começa a pesar. As tensões entre os próprios assaltantes. Ela tenta virar o jogo. Inicia um jogo de sedução que acirra ainda mais a tensão.

“Acho que foi o que mais me interessou nessa história. Ela realmente acredita que é igual a seus assaltantes. Claro que sua realidade é distinta, mas ela nunca teria o discurso do ‘sabe com quem está falando?’. É uma coisa minha, geracional. Venho de uma geração muito política, e a gente, por princípio, nunca se considerou superior a ninguém, e muito menos àqueles a quem damos voz no processo criativo.” Quando começou a trabalhar no projeto, Tata não pensava em nenhuma atriz, especificamente. Muito menos em Marina Ruy Barbosa, que só estourou mais recentemente. “Marina é uma atriz de envergadura, maravilhosa. Merece o sucesso que está fazendo.”

Para seu cinema, ela busca sempre uma interpretação antinaturalista, distante dos padrões da TV. “Nada contra, mas é uma coisa que tem a ver com veículo e com as histórias que conto. Busco atores que me deem essa interpretação internalizada que me interessa. É uma coisa que me fascina, contar até os segundos do gesto, do olhar, buscar a intensidade.”

Sidney Santiago faz o pai de família que começa o filme assaltando para comprar fraldas para o filho. No desenrolar da trama, ele sente o desejo pela garota. Rola um clima de possível estupro. Teve gente que achou Santiago bonzinho demais para esse tipo de reação. “Jura? Acho ele ótimo”, diz a diretora. Parte dessa visão da periferia Tata desenvolveu fazendo a série de TV Causando na Rua. Foi dela que veio Linn da Quebrada, que tem uma participação no filme, além de ser o sujeito do documentário Bixa Travesty, de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla. “A Cláudia fazia pesquisa para a série, foi assim que conhecemos a Linn. O ativismo, não só da Linn, mas do seu coletivo, é muito potente. O pouco que ela aparece (no meu filme) é muito forte.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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