Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias |
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Bruna Marquesine mostra profissionalismo de gente grande. |
Apesar dos nove anos de idade, a atriz Bruna Marquesine já demonstra profissionalismo de gente grande. Quando soube que interpretaria uma cega em "América", a próxima novela das oito da Globo, tratou logo de "treinar" para o papel em casa. Em companhia da mãe, a dona-de-casa Neide Marquesine, Bruna improvisou uma divertida cabra-cega, brincadeira em que uma criança, com os olhos vendados, tenta agarrar outra. O resultado surpreendeu a própria atriz. "No que a minha mãe andava pelo quarto, eu já sabia onde ela estava. Não precisava nem ver. Foi impressionante. Eu percebia só pela respiração dela", espanta-se.
Na trama de Glória Perez, Bruna vai interpretar Maria Flor, a filha da personagem Islane, uma vendedora de cosméticos vivida por Paula Burlamaqui. "A mãe não leva muito jeito com a filha e paga a vizinha para tomar conta dela", entrega Bruna, em tom queixoso. O processo de composição da personagem, ressalva a atriz, não se limitou à brincadeira da cabra-cega.
Por sugestão da própria Globo, ela visitou o Instituto Benjamin Constant, na Urca, Zona Sul do Rio, especializado no tratamento de deficientes visuais. Lá, ficou boquiaberta ao constatar que as crianças cegas brincam, pulam e agem como quaisquer outras. "Eu pensava que, por não poderem ver, elas fossem tristes. Que nada! De coitadinhas, elas não têm nada", garante.
No Instituto Benjamin Constant, Bruna conheceu e fez amizade com a professora Ethel Rosenfeld, de 57 anos. Cega desde os 13, Ethel se locomove com a ajuda de Gem, um cão-guia da raça Labrador que ela adquiriu nos Estados Unidos em 1997. Entre outras coisas, Ethel ensinou Bruna a reconhecer as pessoas através do tato e a não mexer exageradamente os olhos em cena. "Quando você demonstra medo, por exemplo, mexe olho, boca, nariz, tudo. Com eles, é diferente. O olho permanece imóvel", esclarece Bruna, com os olhos arregalados.
Para não fazer feio em sua segunda novela das oito, a atriz pediu também sugestões de filmes para assistir. Embora tenha gostado muito de "Perfume de Mulher", filme que conferiu um Oscar ao ator Al Pacino, Bruna confessa que se emocionou mais com "A Cor do Paraíso", do cineasta Majid Majidi, que narra as desventuras vividas por um estudante iraniano cego. "Na sala de aula, o menino lia melhor que qualquer outro. A única diferença é que o livro dele era em braile", comenta, empolgada.
Enquanto aguarda o início das gravações, Bruna evitar fazer previsões para o futuro. Cautelosa, apenas torce para que a nova personagem faça tanto sucesso quanto a anterior, a sofrida Salete de "Mulheres Apaixonadas", de Manoel Carlos. "Vou me esforçar bastante para fazer um bom trabalho, mas o mais importante é a Maria Flor colocar as pessoas para pensarem: o preconceito, contra quem quer que seja, é sempre ridículo", discursa a atriz.
Embora já tivesse feito comerciais e participado do programa "Gente Inocente!?", também na Globo, Bruna ganhou fama ao interpretar a menina que perdeu a mãe, Fernanda, persona-gem de Vanessa Gerbelli, vítima de bala perdida num tiroteio no Leblon, na Zona Sul do Rio. Por conta disso, não foram poucas as cenas que mostraram a pequena Bruna se debulhando em lágrimas na novela. "Lembro de uma gravação no hospital que envolvia muitos figurantes. Quando um deles errava o texto, eu tinha de chorar tudo de novo. Aí, já viu, né? Nesse dia, chorei umas cinco vezes…", calcula ela, entre risos.
Para chorar, no entanto, Bruna não precisa pensar em coisas triste, ou lembrar de alguém que já morreu. Basta apenas um pouco de concentração. Certa vez, ela encontrou nos estúdios do Projac o tão falado cristal japonês, um pó que provoca irritação nos olhos, e resolveu usá-lo por curiosidade. O resultado, diverte-se a atriz, foi desastroso. "Na hora de gravar, eu chorei quando tinha de rir. Ninguém entendeu nada. Só eu sabia o quanto o meu olho estava ardendo…", brinca ela, marota como qualquer criança de sua idade.
