Nas últimas semanas de janeiro, o bailarino e coreógrafo japonês Tadashi Endo saía do edifício da Caixa Cultural, em Fortaleza, após a apresentação de seu espetáculo mais recente. Na ocasião, foi abordado por um fotógrafo, de 57 anos, que se apresentou como Natureza. Visivelmente emocionado, Natureza trocou algumas palavras com Endo, agradecendo-o e desejando-lhe amor. “Foi doloroso vivenciar o espetáculo, tive até vontade de sair”, disse o fotógrafo ao jornal O Estado de S.Paulo.

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É esta a sensação que Endo parece querer passar com Fukushima Mon Amour, espetáculo que tem duas apresentações nos dias 21 e 22 de fevereiro no Sesc Santana. A venda de ingressos tem início nesta terça-feira, 10, às 18h, pelo site do Sesc, e quarta-feira, 11, às 17h30, nas unidades da instituição.

Apesar de o nome do espetáculo remeter diretamente ao filme Hiroshima Mon Amour (1959), de Alain Resnais, Endo garante que não há relação entre as obras. “Um não tem absolutamente nada a ver com o outro, tirando as palavras ‘mon amour’ (que significam ‘meu amor’, em francês). É isso que é importante”, diz.

O coreógrafo teve a ideia de montar o solo em 2011, ano em que a cidade que dá nome à peça enfrentou duas catástrofes. Em março daquele ano, a região nordeste do Japão foi atingida por um tsunami ocasionado por um terremoto de magnitude 8,9, deixando centenas de mortos, feridos e desaparecidos. O abalo desencadeou outra crise ao atingir a Central Nuclear de Fukushima, fazendo a usina liberar material radioativo em uma situação análoga à que ocorreu na Ucrânia em 1986, no acidente nuclear de Chernobyl.

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“Eu não podia enviar dinheiro ou ir ao Japão para ajudar as pessoas”, diz Endo, que vive na Alemanha. “Resolvi mostrar minha compaixão por meio da dança.” O resultado é um espetáculo poético e de fácil compreensão. Sozinho no palco, o coreógrafo usa técnicas de butô – estilo de dança contemporânea japonesa criada por Tatsumi Hijikata (1928-1986) e Kazuo Ohno (1906-2010) – para retratar os acidentes e seus impactos na população japonesa.

Criada pelo músico brasileiro Daniel Maia, a trilha é parte essencial da peça. Maia e Endo já haviam trabalhado juntos em Ma be Ma, coreografia que foi apresentada no Brasil em 2010. A parceria se repetiu mas, dessa vez, mais intensa: o coreógrafo convidou Maia para passar um mês em sua casa, na Alemanha, discutindo, pensando e criando a trilha. “A ideia era saber como um músico – assim como um pintor ou outro artista – trabalharia a ideia da catástrofe”, diz o coreógrafo, afirmando que a música é autônoma no espetáculo, assim como a própria dança.

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Maia se sentiu confortável durante o processo de criação. “Percebi o tempo todo que ele não queria me encomendar uma trilha”, diz o músico. “Foi uma colaboração em um nível igual. Ele me desafiava a criar, expor meu pensamento artístico sobre as catástrofes.”

Na casa de Endo, as conversas eram mais filosóficas do que técnicas. O caráter das tragédias (uma natural, outra, humana) e a relação das pessoas e do governo com os fatos preenchiam a tarde dos artistas, que, após o papo, se separavam para os momentos de criação. À noite, Maia mostrava trechos que ele havia composto e ambos discutiam a trilha. Livros de fotos de guerra e catástrofes também serviram como inspiração do trabalho. O músico não pensou tanto na dança para compor. “Queria fazer algo que fosse inédito para mim e único para ele.”

Apesar de o espetáculo ter estreado no fim de 2012, na Alemanha, Maia só pôde ver o espetáculo no início do ano, quando Fukushima foi apresentado no Recife. Sentiu, de imediato, uma sinergia. “Quando vejo o Tadashi dançando, sei a motivação de cada um dos movimentos dele para cada som que eu criei”, diz. “É como se eu tivesse feito a música depois de ter visto a coreografia, o contrário do que aconteceu.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.