Os serviços de entretenimento audiovisual via streaming nunca foram tão populares, é o que indica uma nova pesquisa da Ampere Analysis, publicada pela revista The Hollywood Reporter, sobre essa forma, ainda jovem, mas cada vez mais consolidada, de consumo de TV. Segundo o estudo, em 2019, o streaming deve superar o faturamento das bilheterias de cinema em todo o mundo.

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De acordo com o levantamento, o resultado é fruto de uma onda que vem se aproximando gradativamente. Em 2017, o streaming já havia ultrapassado as bilheterias nos EUA. Em 2018, o mesmo deve acontecer no Reino Unido. Para 2019, a previsão deve modificar, de vez, o cenário mundial do audiovisual que vem da China, segundo maior mercado para o cinema, outro a seguir a tendência.

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O estudo não se aprofunda nas causas dessa mudança, mas um indicativo parece ser o alto custo dos ingressos de cinema. Nos países com os preços mais salgados, a Ampere Analysis detectou taxas mais baixas de ingressos comprados per capta. Na Escandinávia, onde a média é de 13 dólares por sessão, algo próximo de 50 reais na cotação atual, o número de idas aos cinemas ficou abaixo de uma, por ano, para cada habitante do país.

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Apesar de haver menos gente indo ao cinema em alguns países, não significa, no entanto, que os consumidores estão migrando para o streaming. Uma outra pesquisa, encomendada pela Associação Nacional de Proprietários de Cinema dos EUA, ou NATO, na sigla original, que foi publicada pela revista Variety, aponta que é improvável que haja uma disputa direta entre as duas plataformas.

Realizada com cerca de 2500 pessoas, a pesquisa verificou que os entrevistados que foram ao cinema mais de nove vezes nos últimos 12 meses consumiram mais conteúdo via streaming do que os entrevistados que foram ao cinema apenas uma ou duas vezes no mesmo período de tempo. Foram 11 horas de conteúdo assistido semanalmente via streaming para os que vão nove ou mais vezes ao cinema, contra sete horas de conteúdo de streaming para os que vão uma ou duas vezes.

No Brasil, as opiniões se dividem. Muitos usuários de streaming afirmam que não abrem mão de ver filmes na tela grande. “Com cinema, é diferente, nunca vou deixar de ir”, diz o produtor de eventos Eric Neumann. O editor de moda Franco Pellegrino concorda. “Continuo indo ao cinema, a experiência é outra”, diz ele, que tem tirado o tempo para consumir streaming de outras atividades de lazer. “Deixo de fazer outros programas para fazer maratonas de séries, por exemplo. Virou um hábito.”

Mas há quem prefira consumir todo o conteúdo audiovisual em casa, como a advogada Camila Queiroz. “Só vou ao cinema se for um filme que eu queira muito ver logo. De resto, espero lançar na TV.”

A maior parte das produções inéditas e exclusivas dos principais serviços voltados diretamente para o streaming, como a Netflix e a Amazon Prime Video, é de séries de TV. Só no País, um estudo da Universal TV feito com mais de 41 milhões de pessoas mostra que atualmente 51% dos brasileiros costumam assistir a séries, seja por streaming ou TV convencional. Ainda segundo a mesma pesquisa, 54% dos brasileiros querem liberdade para assistir ao que quiserem em seu próprio tempo e em qualquer Device.

É difícil ter dados de audiência dos serviços de streaming, já que as empresas do ramo não costumam divulgar números. Mas o site de tendência do Google, o Trends, revelou, ao menos, que as duas séries mais pesquisadas no Brasil em 2018 são exclusivas do streaming. La Casa de Papel e Elite, ambas espanholas, são produzidas pela Netflix. O “top 10” apresenta ainda duas produções nacionais do serviço, O Mecanismo, em sexto lugar, e 3%, em oitavo. Com lançamento exclusivo no Brasil pelo streaming Globoplay, The Good Doctor apareceu em sétimo.

Um dos maiores destaques do streaming no Brasil em 2018, inclusive, foi o início do lançamento de séries brasileiras originais e de séries estrangeiras exclusivas pelo Globoplay, da TV Globo. Antes utilizada apenas para reproduzir o conteúdo da TV aberta, a plataforma, que hoje já conta com cerca de 20 milhões de usuários, entre visitantes gratuitos e pagos, agora busca assinantes oferecendo séries como a brasileira original Ilha de Ferro e a americana, lançada com exclusividade no País, The Handmaid’s Tale.

Se não há canibalismo entre cinema e streaming, os próprios serviços de entretenimento online negam que haja, também, uma competição direta entre eles. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em outubro, durante um evento na Colômbia, o vice-presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erik Barmack, afirmou que não se preocupa com a grande inserção no mercado brasileiro da Globoplay, que só em 2019 promete exibir com exclusividade no País 100 séries internacionais. “É uma ótima época para ser consumidor no Brasil”, disse. “Os consumidores querem ter escolha, ver os conteúdos onde quiserem e como quiserem.”

Para ele, é fundamental observar as mudanças no consumo de TV. “Nós vamos focar em nossas próprias produções e, com isso, vamos ser no futuro bem sucedidos no Brasil, como já somos agora”, completou. “O que não significa que outros players, como a Globo, não possam ser bem sucedidos ao mesmo tempo. E isso é ótimo para os brasileiros.”

Para a Globoplay, a tendência é que o brasileiro passem a assinar mais de um serviço de streaming, o que eliminaria uma concorrência tão direta entre as plataformas. “Nós queremos ser, sem dúvidas, um dos pilares para a maioria dos brasileiros, que irão, no entanto, escolher também alguns dos outros serviços”, afirmou, numa coletiva de imprensa realizada neste mês, em São Paulo, o diretor-geral do Globoplay, João Mesquita.

Alguns consumidores já estão, de fato, pensando no acúmulo de assinaturas de streaming. Fanático por carros, o empresário Vinicius Arques, que já assina Netflix, pensa agora em contratar também a Amazon Prime Video. “Principalmente por ela ter no catálogo a série The Grand Tour”, diz ele, que alega também ter interesse na série de ação Tom Clancy’s Jack Ryan, estrelada por John Krasinski.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.