O cineasta americano Steven Spielberg manifestou sua preocupação com os recentes episódios de anti-semitismo no mundo e advertiu sobre o perigo do “ódio racial e religioso”. Spielberg fez esses comentários há alguns dias, durante o lançamento do DVD de seu filme “A lista de Schindler”, que há 10 anos ganhou sete Oscar, incluindo o de melhor filme e o de melhor diretor.
O cineasta evitou fazer comentários sobre o filme “A Paixão de Cristo”, do australiano Mel Gibson, acusado por alguns de anti-semita, dizendo que ainda não viu o filme. “A primeira pessoa que irá escutar meus comentários, após ter visto o filme, será Mel Gibson”, declarou o diretor de “O parque dos dinossauros”, “Minority report”, “ET” e vários outros sucessos.
Spielberg doou os ganhos obtidos com “A lista de Schindler”, cerca de US$ 65 milhões, para a criação da Shoah Foundation, uma organização dedicada à coleta de testemunhos filmados dos sobreviventes do Holocausto.
A meta inicial do grupo, documentar em vídeo as histórias de cerca de 50 mil sobreviventes dos campos de concentração nazistas, já foi atingida. “Foi uma luta contra o tempo devido à idade avançada dos sobreviventes”, comentou Spielberg.
Apesar de o primeiro desafio contra o tempo ter sido superado, Spielberg afirmou que ainda está em curso “uma corrida contra o tempo para a conquista das mentes e da consciência dos jovens”.
O diretor e produtor disse que é importante que os jovens “aprendam os perigos da discriminação, do ódio racial e religioso, os perigos da vingança raivosa”.
Spielberg, em entrevista ao jornal “The New York Times”, manifestou sua preocupação com a volta de episódios de anti-semitismo na França e em outros lugares. “O anti-semitismo me ensinou muito, me fez compreender que eu não estava seguro do lado de fora de minha casa”, expressou Spielberg.
Entre as recordações do diretor estão humilhações sofridas na escola, no Arizona e na Califórnia, onde estudavam poucos jovens judeus. Spielberg recordou como zombavam dele nas aulas, atirando moedas em sua carteira ou nos corredores, onde outros alunos, fingindo que tossiam, murmuravam a palavra “jew” (judeu) quando ele passava.
O cineasta enfrentou diretamente o tema do anti-semitismo em seu filme “A lista de Schindler”.
Spielberg quer divulgar obras da Shoah Foundation
Spielberg considera a criação da Shoah Foundation o “melhor resultado” de sua vida, “à parte os sucessos familiares”.
A Shoah Foundation entrevistou cerca de 200 das pessoas salvas dos campos de concentração nazistas pelo homem de negócios Oskar Schindler (protagonista do filme de Spielberg). Além disso, criou numerosos vídeos, destinados principalmente aos mais jovens, sobre os testemunhos dos dramas do Holocausto.
Spielberg pediu à companhia Universal que o lançamento do DVD não seja apenas um fato promocional para a venda do filme, mas uma ocasião para ilustrar os resultados da obra de divulgação da Shoah Foundation.
O DVD contém, além do filme, um documentário de 77 minutos com os testemunhos de alguns dos judeus salvos por Schindler.